terça-feira, julho 03, 2007

PEQUENA MISS SUNCHINE - Uma pequena Obra Prima


Hoje em dia, o mercado cinematográfico se divide praticamente em duas esferas: (1) das milionárias superproduções que geralmente faturam horrores nas bilheterias e que dão mais ênfase à parte técnica de um filme, e (2) das discretas produções que dão um enfoque maior no roteiro e no desenvolvimento de seus personagens e narrativa... esses últimos, apesar de não se transformarem em arrasa-quarteirões, possuem muito mais chance de serem verdadeiras obras primas. É o caso de Pequena Miss Sunshine!

A história segue o lúdico sonho da graciosa menina Olive (a carismática Abigail Breslin, mostrando que simplicidade pode também ser um grande talento para a interpretação), que pensa em ganhar o concurso da "Pequena Miss Sunshine" disputada entre tantas outras meninas de diversas regiões dos EUA. Talvez, o único e maior problema da doce Olive ganhar esse concurso seja sua própria família, composta por membros parcialmente esquisitos! Sheryl (interpretada pela excepcional Toni Collette, a mãe de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido), é também aqui a mãe da pequena Olive; uma mulher aparentemente equilibrada, mas que é sufocada em muitas vezes por seu casamento, ou melhor, por seu marido Richard e acaba tendo suas crises de histerismo. Greg Kinnear (o bichinha educado que morava ao lado de Jack Nicholson em "Melhor é Impossível") é Richard, um homem metódico e sistemático que vive sob regras e normas da "boa imagem perante a sociedade". É o típico americano que pensa em sucesso, quer viver o sucesso e respirar o sucesso, sendo que ele mesmo é um poço de imperfeições. Seu lema é "No mundo, só existem dois tipos de gente: os vencedores e os perdedores"... creio que Richard esteja na segunda definição e não sabe disso. Dwayne (o novato Paul Dano) é o irmão de Olive, um adolescente rebelde e conturbado que preferiu se isolar de sua própria família não se comunicando durante 9 meses. Quer ser piloto militar e vive uma fase inteiramente revoltada com tudo e todos. O jovenzinho praticamente odeia todas as pessoas... ou pelo menos, diz que odeia. Tio Frank (o ótimo Steve Carell, o famoso "Virgem de 40 Anos") é um homossexual que já tentara suicídio, mas que agora tenta pôr sua vida em ordem após sofrer uma amarga desilusão amorosa. Bondoso e pacífico, ele só quer viver em paz com todo mundo. Chegamos, enfim, no avô doidão da pequena Olive que se tornou um viciado em heroína e um leitor assíduo de revistas pornográficas. O vovô interpretado pelo veterano Alan Arkin (vencedor do óscar de melhor coadjuvante por esse papel), é um homem que tenta aproveitar os exageros da vida já que acha que perdeu muito tempo sendo "careta". Portanto, dentro desse núcleo familiar repleto de personagens problemáticos, a menina Olive seja concretamente a pessoa mais sensata da família. E é aí, que nossa admiração e carinho pela personagem aumenta ainda mais!

O roteiro explora cada personagem com perfeição, dando espaço para todos atuarem de forma plena e convicta de que conseguirá demonstrar as qualidades e os defeitos de suas personalidades. Há diálogos sensacionais que provam o quanto de sutileza e sinceridade há em cada membro dessa louca família. É como se conseguíssemos desmascarar um pouco mais de seus perfis apenas percebendo cada frase e palavra que estão sendo ditas. Lembrando que mesmo enfocando o drama de uma família, o roteiro do filme, acentua muito bem os pontos divertidos e engraçados de cada um deles (a cena da fuga com um corpo pela janela de um Hospital demonstra um trabalho em equipe maravilhoso dentro dessa questão cômica, rs). O filme carrega o toque de humor com sutileza... nada é escancarado pra se gargalhar!

Muito bem dirigido pelo não tão conhecido Jonathan Dayton, "Pequena Miss Sunshine" é um notório exercício onde mostra que um diretor não precisa ser extravagante para transformar o filme em algo mirabolante, pois a mirabolância desse projeto reside justamente na naturalidade com que cada cena e sequência foi feita: as da corridinha pra pegar a Kombi que não pode parar e toda a sequência da dança final, são os brilhantes elementos que comprovam isso!

A história é cativante, o filme é completamente humano e seu elenco (escolhido com perfeição!) faz com que cada um de nós, no fim de tudo, reflita sobre o que a sociedade nos impõe no que diz respeito ao que é certo e ao que é errado. Será mesmo que ser perfeito é perfeito? Ou se identificarmos nossas diferenças e as dos outros e soubermos respeitar e compreender isso, podemos um dia, tornarmos seres humanos melhores? Concordo com o Richard quando diz que na vida, há vencedores e perdedores... mas há aqueles perdedores que talvez nos ensine muito mais do que alguns vencedores.

* NOTA 9

PS: A Kombi da família, é um personagem à parte.

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