sábado, novembro 07, 2009

Zombieland - Uma divertida sátira ao mundo dos zumbis!

George A. Romero é conhecido como o "pai" dos zombie-movies... o cineasta praticamente levou às telas os mais significativos e inesquecíveis filmes com os mortos-vivos e criou, desde então, um sub-gênero admirado por uma legião de fãs e imitado por muitos novos cineastas.

No entanto, mesmo que os filmes de Romero já possuíssem críticas sociais e muito humor negro IMBUTIDO nas cenas aterrorizantes e sanguinolentas de seus comedores de cérebro, foi só no início dos anos 2000 que alguns filmes começaram a querer transformar esse mote em comédia, de fato. Zumbilândia é a prova disso... que mesmo não descartando o sangue, as tripas e os mortos perambulando sedentos pelas ruas, consegue ter um humor completamente extravagante e bem trabalhado, com ótimas sacadas, diálogos super inspirados e atuações que favorecem ainda mais o tom "pastelão" e "anárquico" dessa divertida comédia com zumbis.

O novato e jovem diretor Ruben Fleisher, junto dos competentes roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick, fazem um filme que na verdade é uma grande mistura de comédia, terror, aventura, romance e road-movie tudo num só mesmo pacote e, por mais inusitado que isso seja, conseguem extrair uma qualidade de todos os elementos de forma muito bem integrada.

Há tiradas do roteiro simplesmente geniais como as - inúmeras! - regras contra os zumbis (a do banheiro é completamente hilária!!!) e que não deixam de ser também totalmente coerentes, rs. As cenas são muito bem dirigidas por Fleischer, que sabe misturar perfeitamente a tensão provocada pela situação incômoda e emergencial quando os protagonistas encaram os mortos-vivos com o humor escrachado de pequenos momentos inusitados que vão acontecendo no decorrer da trama! Algumas tomadas do diretor são muito bem trabalhadas e o início do filme é simplesmente espetacular, visualmente falando!

Mas Zombieland não teria ainda tanta graça se não fosse pelo elenco principal, composto por apenas 4 atores: Jesse Heisenberg, Emma Stone, Abigail Bresslin e Woody Harrelson... esse último, talvez, num dos papéis mais divertidos de sua filmografia! (e é muito bom constatar que um ator carismático e talentoso como Harrelson, está sendo bem mais aproveitado pelo Cinema, já que ficou tanto tempo subvalorizado por essa indústria). Columbus (Jesse Heisemberg) é quase o protagonista da história, já que é ele quem narra o filme inteiro em off, mas é impossível ficar indiferente às trambiqueiras irmãs feitas por Emma Stone e Abigail Bresslin, mas ao meu ver, quem quase "rouba" a cena é mesmo o simpático atirador viciado em bolinhos Talahasse feito por Woody Harrelson...! Inclusive, uma sequência toda em câmera lenta dentro de uma loja de artigos para se fazer valer a regra "Aproveite as pequenas coisas da vida", de Talahasse, é uma das mais legais do filme!!!

Despretencioso, super divertido, com algumas idéias muito bem sacadas, e completamente simpático, a comédia de "terror" Zombieland torna-se ao meu ver, uma das pequenas - porém, ÓTIMAS surpresas! - desse ano.

Se Ruben Fleisher manter essa qualidade na direção e na narrativa, tem tudo para ser mais um diretor de criatividade exemplar!

Ps: Há ainda uma hilária participação de Bill Murray e mais uma homenagem aos que gostam de "Os Caça-Fantasmas".

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terça-feira, outubro 20, 2009

NOVIDADES NO AMOR - Uma grande novidade num roteiro!!!

Com um elenco que, à primeira vista, não me chamava muita atenção (mesmo que eu ainda ache Catherine Zeta-Jones simpática, ela não me "arrasta" pra esses tipos de filmes), admito que foi a simples, porém real sinopse do filme, que me induziu a algum interesse. Pois não falamos de casais belos e na flor da idade que cometem desencontros malucos e apostas amorosas. Novidades no Amor tem algo a mais... ele não é simplesmente uma comédia romântica fantasiosa. Sim, há seus exageros e clichês como todo romance que aposta na comédia possui, mas o filme se aproxima muito mais da realidade quando investe - principalmente na meia hora final! - nos grandes questionamentos de um relacionamento entre uma mulher mais madura e um homem mais jovem.

Catherine Zeta Jones é Sandy, uma mulher recém separada, se divorciando, que tem que tomar conta de seus dois filhos pequenos (um casal de crianças pentelhas, diga-se de passagem!), que tem uma amiga doidivana que a "empurra" para encontros meio desastrosos e que repentinamente, se vê gostando de Aram Finklestein, o babá de seus filhos. Não, você não "leu errado", Aram é mesmo um babá, afinal, o rapaz que trabalha numa pequena cafeteria com um amigo bobalhão, e que ainda mora com os pais, aceitou tomar conta dos filhos pequenos de Sandy, depois que esta o "surrou" numa aula de liberação de raiva feminina.


Catherine é uma atriz competente e mostra uma personagem ao mesmo tempo charmosa e atrapalhada, numa atuação correta e na medida. Mas é justamente o ator Justin Bartha que, ao meu ver, compõe uma atuação digna de elogios, pois ele confere um ar de ingenuidade e bondade ao seu personagem, que mesmo quando o vemos dando um fora em alguém, ou proferindo algumas palavras mais duras para quem merece, não conseguimos "enxergá-lo" como um cara rebelde ou fanfarrão. Aram Finklestein, feito sensivelmente por Bartha, é o tipo de homem que, mesmo com pouca idade, e sem tanta independência financeira, mostra uma maturidade de sentimentos que muitos homens mais velhos jamais vão ter. E é muito doloroso perceber que o relacionamento do casal não é "abalado" por esse detalhe dele ser mais jovem. Aliás, isso TAMBÉM implica, mas é algo implícito em Sandy... pois o que realmente vem à tona numa discussão reveladora dela, é o fato dele não ter a estabilidade financeira e essa independência que ela, Sandy, desejava tanto num homem.

Mas que droga: se eles estavam tão felizes, se ELA principalmente, estava tão feliz com ele, porquê jogar tudo pro alto? Por quê arruinar isso tudo? Por quê não mostrar e provar para um homem que é honestamente amoroso e romântico, que é justamente o amor e o romantismo dele que são as coisas mais importantes para ela? Mas aí é que o filme torna-se VERDADEIRO e CORAJOSO ao mostrar que esses sentimentos, num homem sem dinheiro, não são importantes! A mulher pode de fato achar o amor, o carinho e o romance de um cara, muito bonito e perfeito... mas sabe que na REALIDADE, é o dinheiro e a estabilidade financeira que ditará as regras. E é pela culpa desse materialismo, embutido em muitas mulheres (mesmo que muitas não percebam!), que a felicidade de um casal é completamente arruinado.

Novidades no Amor não esconde isso. Muito pelo contrário: o filme realça e deixa claro que, mesmo que a personagem principal do filme tenha dito pra amiga que o homem que ela estava amando, era perfeito, carinhoso, amoroso, romântico e que mesmo sendo muito mais jovem que ela, ele ainda era mais maduro que todos os homens mais velhos que ela conheceu, isso não foi o suficiente para que ela deixasse de se incomodar com a diferença de idade entre eles, onde ele morava, o hábito de leitura dele, e a falta - temporária! - de independência monetária do rapaz. E esse rapaz, a amava de verdade e era um homem perfeito SIM. No fim, não era a diferença de idade que atrapalhou aquela relação... mas sim, a falta de DINHEIRO dele!

O mais curioso para mim, no entanto, é justamente saber que essa moral do filme tão cruelmente realista e triste, é exatamente o ponto mais forte e adulto do roteiro, e que faz com que Novidades no Amor, sem sombra alguma de dúvida, se diferencie com muito brilhantismo e emoção de muitas Comédias Românticas por aí. Porque afinal, ele é um filme completamente SINCERO em sua mensagem final.

Ps: Talvez, muitos homens não se abrem ou não são tão românticos, justamente por saberem que uma mulher o vai "avaliar" pelas suas posses e condição financeira. O que não deixa de ser algo contraditório vindo de alguém que levanta tanto a bandeira do romantismo e do amor: as mulheres!


Nota: 8,5

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segunda-feira, fevereiro 23, 2009

CAOS - Uma interessante trama policial

Poucos são os filmes policiais que saem diretamente para o DVD que possuem uma trama realmente engenhosa. Claro que há vários enredos que nos chamam atenção à primeira vista, mas que aos poucos, durante o desenvolvimento da história, começam a tornar-se enfadonhos, repetitivos e tendem a se "perder" nas próprias reviravoltas e surpresas jogadas pelo roteiro. Ainda mais quando o filme policial possui vários elementos para ser uma ação escapista do que um suspense investigativo, como é aparentemente o caso de Caos ("Chaos", de 2005) que nos exibe logo de cara, dois atores ícones do cinema de ação contemporâneo, que é Wesley Snipes e Jason Stathan. Mas não se enganem, pois apesar de terem esses dois marcantes atores do gênero, o filme consegue mesclar muito bem a ação adrenalínica com uma história que prioriza todos os pontos narrativos de maneira inteligente.

Apresentando logo de início, uma introdução que parece "apenas" mostrar o resultado de uma ação que definiu o destino do personagem principal (Stathan, muito bem no papel), o filme ganha pontos rapidamente quando já "revela" que esse tal acontecimento ainda poderá explicar muitas coisas no futuro dos personagens. Concebendo a partir daí, uma trama bem amarrada com cenas pseudo-explicativas e que ainda terão mais significados à frente, Caos consegue a proeza de nos enganar com pequenos detalhes inseridos numa ação ou num diálogo, que facilmente nos pode passar despercebidos. Os poucos personagens apresentados a nós, não são jogados ao acaso e a história se firma cada vez mais, quando percebemos que a investigação inicial, é na verdade uma intriga maior e mais nebulosa que envolve o passado do mocinho e do bandido ao mesmo tempo (não se preocupem, não estou revelando nada). No meio disso tudo, um jovem policial precisará resolver toda a problemática dessa emaranhada investigação, e é aí que o filme mostra sua força!

Interpretando dessa vez o vilão, Wesley Snipes não muda muito o seu estilo interpretativo; exibindo aquele olhar sempre enérgico de ator de ação, com o seu ar "debochado" (dessa vez, mais acentuado) e aquela ginga de lutador, o ator oferece uma boa performance - mesmo que rápida. É eficiente em pelo menos nos mostrar que ele não é meramente um assaltante de Bancos, mas pode ser talvez, um homem que quer colocar um plano maior em evidência. E outro ator de ação que se sai ainda melhor que Snipes (até porque é realmente o nome principal do filme!) é o carequinha Jason Stathan, mostrando nessa produção que não é só um artista marcial, mas é também um cara que sabe realmente atuar! É dele as frases mais curiosas e as tiradas mais engraçadas. Fazendo um policial durão, mau humorado e sacana (algo que Bruce Willis também adoraria fazer, e que já domina há um bom tempo!), Stathan também aproveita pra exibir um lado mais humano, engraçado e divertido com seu personagem, chegando a dar um sorriso sincero onde pouquíssimas vezes o vimos fazer em cena - que o diga seus exagerados heróis sizudos em Carga Explosiva e Adrenalina. No elenco também está o veterano Henry Czerny, mas ele tem apenas pequenas aparições e só serve mais para enfeitar o desenvolvimento do personagem de Stathan.

E no meio a esses astros de certo renome, está o jovem Ryan Phillipe (de Segundas Intenções, seu filme mais marcante), mostrando sua semi-inexpressividade como ator e provando o porquê não é chamado para muitas produções até hoje. O irônico é que para um filme tão acima da média, comandado de forma tão segura e criativa pelo diretor e roteirista Tony Giglio e que consegue extrair boas interpretações de Snipes e Stathan, o insosso Ryan Phillipe seja quase que o personagem condutor de toda a história. Esse foi apenas o meu único incômodo durante toda a projeção: reconhecer que o papel de Phillipe, era mesmo aquele que interligaria toda a narrativa e se mostraria o segundo personagem principal, depois do competente Jason Stathan.

Ainda bem que, mesmo não gostando da atuação de Ryan Phillipe, devo admitir que o filme se sobressai pela inventiva e bem entrelaçada trama policial, fazendo com que Phillipe não comprometa gravemente a produção... embora, Jake Gyllenhaal, Casey Affleck ou qualquer outro jovem ator vigorosamente esforçado, teria feito um trabalho visivelmente melhor!


Mas Caos é mesmo bom e merece ser visto sem qualquer receio.

NOTA 7,5

PS: Jason Stathan tem tudo para começar a escolher significativos trabalhos no cinema e deixar um pouco de lado, essa "fama" de herói de ação desenfreada, pois o ator mostrou ter certo talento e muito carisma!

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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

CORALINE E O MUNDO SECRETO - Uma fábula animada nada infantil

Atualmente os desenhos animados avançaram por um campo muito rico que é o da tecnologia da animação. Praticamente, vemos produções da Pixar, da Dreamworks e da Disney arrebatarem prêmios por suas mirabolantes e perfeitas técnicas visuais. A narrativa também é outra área muito bem explorada hoje em dia, com roteiros minuciosamente bem trabalhados, e diálogos e situações que nos remete à filmes cinematográficos. Apenas um único elemento essas grandes empresas de animação possuem em comum: o seu público alvo. Embora, alguns desenhos trate de temas mais avançados e elaborados que jovens e adultos se apegam, o tom e o clima de humor infantil continua lá... irretocável com a presença de seres engraçadinhos, bichinhos tresloucados e personagens cômicos. Todos, em sua maioria, voltados exclusivamente para as crianças! Mas é difícil - e até RARO - uma produção animada numa técnica bem mais pueril que é a do stop motion com massinhas, conseguir ser completamente envolvente de maneira séria e adulta. E Coraline e O Mundo Secreto ("Coraline", 2009) é exatamente assim!

De Henry Sellick, o mesmo diretor do inovador O Estranho Mundo de Jack e do carismático James e o Pêssego Gigante, e à partir dos contos de Neil Gaiman, autor de famosas Histórias em Quadrinhos e Livros, Coraline e O Mundo Secreto possui as mesmas características visuais de seus antecessores (personagens esticados, visual alegórico e tom sombrio) numa história totalmente reflexiva e, até em alguns pontos, assustadora! Utilizando a charmosa técnica da animação quadro a quadro com massas de modelar e cenários feitos em maquetes, Coraline já quebra qualquer convenção dos desenhos animados em agradar criancinhas logo em suas cenas iniciais, quando exibe em sua abertura, uma mão medonha de ferro costurando os olhos e as bocas de bonequinhos de pano, de uma maneira bem agressiva e impactante. Quero dizer, para alguns... já que muitos jovens e adultos devem achar a sequência inicial até comum. O curioso é começarmos a compreender - aos poucos! - a história sombria, melancólica e falsamente feliz de Coraline. Assim que se muda com seus pais para um local aparentemente calmo, mas que sempre chove muito, a menina (que aparenta uns 9 ou 10 anos, mas que o roteiro nunca revela) conhece logo o inquieto Wybie, um garoto meio nerd que adora andar de bicicleta com suas estranhas máscaras artesanais. Aparentando também ter a mesma idade da pequena e espivitada Coraline Jones, o garoto a entrega uma bonequinha de pano com olhos de botões que chama a atenção da menina, mas que será apenas um pequeno elemento de uma trama muito mais elaborada e espantosa. E o "espantosa" aqui, não é só um termo de surpresa, mas sim de espanto mesmo, de terror, já que quando conhecemos a real história dos "outros pais" de Coraline e da realidade do tal "Mundo Secreto" do título, começamos a perceber que a vida da protagonista e de seus verdadeiros pais, podem estar correndo perigo, assim como a vida do vizinho acrobata e das vizinhas ex-vedetes.

Muito bem escrito, com passagens até filosóficas narrativa e visualmente, Henry Sellick demonstra um total domínio em sua direção, conseguindo nos fazer refletir em um simples sorriso forçado de determinado personagem, como num bem construído diálogo entre Coraline e sua "outra mãe". Reparem, por exemplo, no visual aterrorizante quando esta se revela para a menina num momento crucial do enredo, ou então no inusitado cortador de grama do "outro pai" que, se num momento da história se apresenta como uma ferramenta divertida e engraçada, em outro, se mostra como uma assustadora e mortífera máquina destruidora. Aliás, são nessas pequenas sutilezas e nos ricos detalhes escondidos em cada canto de Coraline, que Henry Sellick consegue montar com muito brilhantismo uma produção de encher os olhos... e a mente! E acredito com toda a certeza que muitas crianças podem não entender o ritmo da história e muito menos se adaptar ao estranho e sombrio mundo apresentado pelo diretor, mas arrisco em dizer que jovens mais maduros e adultos já habituados às produções mais fechadas de animação, vão adorar! Com uma leve inspiração em Alice no País das Maravilhas, Coraline, magistralmente, joga todo aquele conceito de um mundo fantástico descoberto pelos olhos de uma criança num caldeirão maquiavélico e subliminarmente reflexivo.

E é de se admirar que a técnica do stop motion de massinhas, que é uma habilidade já consagrada pelo clássico Wallace e Gromit, e que sempre serviu para nos contar histórias animadas com diversão e leveza, seja aqui utilizada para nos revelar uma rica trama de falsidade, domínio emocional e superação pessoal.

PS: Infantil mesmo, só o rostinho dos bonecos.

NOTA 8.5

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segunda-feira, janeiro 26, 2009

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO – Uma pancada na alma!

Antes de iniciar essa crítica, gostaria de dizer que sou fascinado por dramas de guerra. Não dramalhões, mas aqueles que são feitos com sensibilidade à ponto de nos fazer questionar profundamente sobre o conceito da Guerra, à respeito da imbecilidade dos conflitos entre povos e sobre a importância da humanidade e do afeto onde ela nem existe mais. O Menino do Pijama Listrado ("The Boy in the Striped Pyjamas", 2008) não só consolida todos esses elementos de maneira direta e magistral, como se torna ao meu ver, uma das obras mais importantes a se discutir dentro desse gênero.

Elsa, a esposa de um soldado Nazista, aceita se mudar com ele para as proximidades de um campo de concentração depois que seu marido é promovido a Comandante. Digna e dedicada, Elsa leva com ela seus dois filhos: a menina Greitel e o curioso Bruno, seu caçula. Elsa é humana, sábia e carinhosa, mas não imagina o que realmente seja um campo de concentração! Ao seu entender, tais campos são apenas presídios ou centros de contenção que tem como objetivo alocar prisioneiros judeus que estejam direto ou indiretamente envolvidos com as guerras. Com ela, seu filho Bruno partilha da mesma inocência, só que o garoto de apenas 8 anos, enxerga os campos como fazendas e acredita que todas aquelas pessoas do outro lado da cerca, sejam fazendeiros.

Recém afastado de seus amigos da cidade, Bruno carece de novos companheiros de mesma idade, e ao avistar um menino com a cabeça raspada trajando um uniforme listrado semelhante a um pijama, e sentado sempre próximo da cerca de arames farpados, que Bruno vê a chance perfeita para se reconstruir um novo amigo. Só que existe um grande e terrível problema nessa inusitada relação... o novo menino chamado Schmuel (ou Samuel, que é como Bruno o chama depois que o conhece) é um pequeno Judeu, e como todos naquela época, era tratado como um verme asqueroso, cercado por soldados alemães prontos para lhe machucar, caminhando sem mais esperança - ou força! - de viver com alegria. E, mesmo assim, é através do menino alemão Bruno, seu mais novo amigo, que o judeuzinho Samuel volta a sorrir. E está aí toda a carga de emoção, beleza e inteligência que o filme poderia nos transmitir: na sincera e natural amizade dos dois meninos!!!

É emocionante ver que quando Bruno (Asa Butterfield) conhece Samuel (Jack Scanlon) atrás do cercado, a primeira pergunta eufórica que este lhe faz é se tem muita comida de onde ele vem? Ora, não precisa ter mais diálogos para se complementar o terror que aquele cenário de guerra fez no menino judeu... sua transparente e sofrida pergunta já exprime todo o resumo da covardia e humilhação pelo qual ele está passando. O roteiro é fabuloso! Não há como se elogiar um filme quando não nos sentimos tocados e deslumbrados com a maneira de como os personagens são desenvolvidos, como a história é transmitida e como toda a linha narrativa do filme é colocada de maneira gradativamente espetacular. O diretor Mark Herman adaptou de forma perfeita o já extraordinário best seller de John Boyne realizando uma direção precisa, segura e totalmente envolvente. O elenco também ajuda, principalmente, Vera Farmiga (a Elsa, mãe de Bruno) que consegue mudar toda a sua forma interpretativa em reagir contra os métodos de seu frio marido. Aliás, acredito que foi ela a grande vítima de toda a estupidez que seu imbecil esposo colaborou.

Mas no entanto, é a amizade de Bruno e Samuel que mais mexe com a gente! Não há uma cena se quer, onde os dois meninos aparecem juntos que não nos sentimos compartilhados de tudo aquilo. Não são excelentes atores mirins ou crianças-prodígios como Haley Joel Osment ou Dakota Fanning, mas conseguem com naturalidade e com um envolvimento sutil, despertar em nós o carinho e a verdade que aquela relação tão cheia de obstáculos poderia nos passar. E conseguem pra valer, com muito louvor! Bruno e Samuel, diferente dos meninos de O Caçador de Pipas, jamais se afastam ou se renegam por algum motivo... ao contrário, quando tudo parecia distanciá-los de vez, é quando eles se unem no momento mais bonito e ingênuo de todo o filme... é quando, finalmente, O Menino do Pijama Listrado chega em seu desfecho e se torna uma poesia!

Essa pérola cinematográfica é a prova absoluta de que jamais foi necessário usar efeitos ou se utilizar das eloquências técnicas que o Cinema pode proporcionar para se criar um verdadeiro drama de guerra. E para um filme desse gênero, é espantoso que não haja sequer um único tiro ou sangue derramado durante toda a projeção... e foi isso que me deixou ainda mais fascinado, pois O Menino do Pijama Listrado nos dá uma aula de intolerância humana não em cenas violentas, mas apenas mostrando a dificuldade de se manter uma afetuosa e carinhosa relação entre dois pequenos amigos... só por terem etnias diferentes.

NOTA 10

PS: O velhinho que faz o judeu Pavel nos comove inteiramente, e ver ele em cena assim como observar aquela fumaça negra sendo expelida pelas chaminés dos campos de concentração, nos faz perguntar do por quê de toda aquela estúpida selvageria? Um filme que merece ser visto e revisto, mesmo que seja uma verdadeira e precisa pancada na alma.

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sábado, janeiro 17, 2009

ABISMO DO MEDO - Criaturas legais e protagonistas chatas!

Com uma sinopse simples e um desenvolvimento rápido, Abismo do Medo consegue nos assustar em cenas claustrofóbicas e tensas, apresentando uma ameaça bem interessante, apesar de não conseguir fugir do clichê e de algumas cenas completamente exageradas. (O trabalho visual do pôster do filme, no entanto, merece meus sinceros elogios!!!)

Tudo começa quando seis moças decidem explorar uma caverna (para se desestrassarem, por radicalismo, sentir novos desafios ou apenas movidas pela TPM!) e logo, percebem que haviam entrado na caverna errada porquê uma delas não trouxe o livro de expedição (é sério, não riem!). Quando já imergidas na escuridão total das grutas e nos incômodos e nervosos túneis da misteriosa caverna, as seis jovens começam a avistar estranhas criaturas antigas que habitavam o interior daquele declínio. À partir daí, e cada vez mais, uma sucessão de erros cometidos pelas seis mocinhas vão acontecendo (de forma idiota, convenhamos!) e as criaturas parecem perceber isso (os erros e a idiotice delas) e partem pra cima, aterrorizando, vitimando e assustando cada vez mais.

O filme é interessante. Não nego a falta de bom senso do roteirista que transformou algumas personagens em puro clichê cinematográfico: existe a chata, a mais chata ainda, a irritante que só sabe gritar, a medrosa pessimista, a cretina e a versão Rambo de saias (substitua apenas as metralhadoras de Stallone por uma machadinha de alpinismo); mas com tudo isso, Abismo do Medo funciona como terror, por incrível que pareça. O diretor Neil Marshall que também foi quem escreveu o filme, funciona mil vezes melhor comandando as cenas do que escrevendo o roteiro, sem sombra de dúviida, e consegue criar bons momentos de tensão, sequências angustiantes misturadas à claustrofobia e ao nervosismo das personagens e coloca o clima de suspense sempre crescente. As atrizes, pelo menos, ajudam a compor essa histeria e duas delas se destacam: a que vive a personagem Juno (a Rambo de saias na qual falei) e Sarah (a "mocinha principal", que de medrosa vai recuperando uma coragem até então inexistente... e, por vezes, absurda!). Holly e Beth, são certamente, as mais insuportáveis! Enquanto a primeira tentava sempre liderar o grupo e só fazia merda atrás de merda - a ponto até de quebrar a perna e dá trabalho em dobro pras amigas -, Beth se esforçava em ser a legalzinha, mas escondia um mau caratismo impiedoso, conseguindo ter um final tragicamente imbecil. E pasmem: mesmo morrendo, ainda delata o erro de uma outra personagem propositalmente... "muy amiga", não? (acho que merecia morrer mesmo, rs).

Por outro lado, as criaturas foram bem construídas e elaboradas! Seres meio humanóides, mas com sentidos de morcegos (como o sensor ao som e a cegueira), elas conseguem mesmo impressionar... seja no lado interpretativo (há todo um trabalho de expressão corporal muito bem coordenado) e no lado estético (a aparência dos monstrengos realmente assustam). E, ao contrário das moçoilas heroínas que se perdem a cada movimento e atitude, as das criaturas são totalmente bem osquestradas.

Bem dirigido, mediocremente escrito e com um elenco irregular, Abismo do Medo consegue ser o tipo de terror que provoca bons sustos por parte dos seres bizarros e irrita com tantas mocinhas exageradas e chatas!

Nota 6

PS: Ao menos, o filme ensina uma IMPORTANTE lição: nunca, nunca mesmo se aproxime silenciosamente por trás de alguém... ainda mais quando esse alguém estiver com uma picareta na mão depois de matar monstrinhos feiosos.

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domingo, janeiro 11, 2009

NA MIRA DO CHEFE - Uma ótima surpresa

Às vezes sou acometido por grandes e inusitadas surpresas cinematográficas! Filmes em que eu acredito serem bons me decepcionam completamente e, alguns outros, em que eu assisto sem a menor expectativa, me agradam em cheio... e é o caso de Na Mira do Chefe ("In Bruges", 2007), filme quase independente, dirigido por um estreante cineasta saído dos teatros e estrelado por três craques do cinema como o versátil Colin Farrell (Por Um Fio), o talentoso Brandan Gleeson (Coração Valente) e o brilhante Ralph Fiennes (O Paciente Inglês).

O filme, todo filmado na Bélgica (na medieval cidade de Bruges), conta a rápida - e original! - história de dois matadores de aluguel que depois de realizarem um serviço, são mandados para aquela isolada cidade a fim de realizar mais um outro pequeno serviço a mando do chefe. O problema todo começa justamente aí: o que seria uma tarefa simples, acaba saindo do controle e transtornando a todos, principalmente um dos matadores e seu meticuloso chefe.


O filme - uma comédia dramática - possui ótimos e perfeitos diálogos, e situações muito bem elaboradas envolvendo principalmente os três protagonistas centrais (os dois matadores Ray e Ken e seu chefe Harry). O roteiro sabe explorar de forma muito inteligente cada um de seus bem construídos personagens. Até os coadjuvantes são muito bem destacados, como a moça que se envolve com um dos matadores, seu ex-namorado, uma hoteleira, um vendedor de armas e até um ator anão. A história, totalmente envolvente, consegue ainda nos manter "presos" de maneira sutil com todos os acontecimentos que vão surgindo em cena, sejam eles dramáticos ou puramente hilários... e essa mistura, do drama com a comédia, acrescentado com diálogos super inspirados, me lembrou em muitos momentos, algum filme de Quentin Tarantino; como por exemplo, a conversa que Ray tem com sua namorada sobre os anões e quando Harry fala com certo personagem que acabara de perder um olho.

Se já não bastasse possuir uma ótima história magistralmente desenvolvida, Na Mira do Chefe ainda consegue extrair o melhor de cada ator. Colin Farrell, um matador em conflito que leva um peso na consciência, faz o personagem Raymond de forma extraordinária, colocando em excelente equilíbrio todo o fundo trágico e dramático de seu papel com uma gaiatice e comicidade de impressionar (reparem em seus trejeitos físicos e a maneira como entorta a cabeça para o lado e levanta os ombros num gesto meio pueril de quem não sabe dar uma resposta exata). Outro que merece muitos elogios é Brendan Gleeson, que faz o contido e racional Ken, um matador mais experiente, humano, que sempre procura analisar as coisas e realizar suas ações com muita calma e cautela, transformando-o no fim, no personagem mais íntegro de todos. E, finalmente, Ralph Fiennes, como Harry, o chefe da dupla de matadores... um indivíduo demasiadamente meticuloso, sistemático e cumpridor de regras bastante rigorosas. Seriam essas até qualidades, se o sujeito não fosse altamente perigoso!

Com todos esses deslumbrantes acertos, o diretor Martin McDonagh, que também escreveu e roteirizou o filme, e que me surpreende ainda mais por sair de peças teatrais e comandar esse seu primeiro trabalho para o cinema com muita habilidade e segurança, fez de Na Mira do Chefe, o típico "pequeno grande filme" que nos envolve, nos emociona e nos faz rir de maneira espontânea e com muita inteligência.

Nota 9

PS: A única seqüência sonorizada por uma música, é também pra mim, a mais emocionante de todo o filme!

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