segunda-feira, janeiro 26, 2009

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO – Uma pancada na alma!

Antes de iniciar essa crítica, gostaria de dizer que sou fascinado por dramas de guerra. Não dramalhões, mas aqueles que são feitos com sensibilidade à ponto de nos fazer questionar profundamente sobre o conceito da Guerra, à respeito da imbecilidade dos conflitos entre povos e sobre a importância da humanidade e do afeto onde ela nem existe mais. O Menino do Pijama Listrado ("The Boy in the Striped Pyjamas", 2008) não só consolida todos esses elementos de maneira direta e magistral, como se torna ao meu ver, uma das obras mais importantes a se discutir dentro desse gênero.

Elsa, a esposa de um soldado Nazista, aceita se mudar com ele para as proximidades de um campo de concentração depois que seu marido é promovido a Comandante. Digna e dedicada, Elsa leva com ela seus dois filhos: a menina Greitel e o curioso Bruno, seu caçula. Elsa é humana, sábia e carinhosa, mas não imagina o que realmente seja um campo de concentração! Ao seu entender, tais campos são apenas presídios ou centros de contenção que tem como objetivo alocar prisioneiros judeus que estejam direto ou indiretamente envolvidos com as guerras. Com ela, seu filho Bruno partilha da mesma inocência, só que o garoto de apenas 8 anos, enxerga os campos como fazendas e acredita que todas aquelas pessoas do outro lado da cerca, sejam fazendeiros.

Recém afastado de seus amigos da cidade, Bruno carece de novos companheiros de mesma idade, e ao avistar um menino com a cabeça raspada trajando um uniforme listrado semelhante a um pijama, e sentado sempre próximo da cerca de arames farpados, que Bruno vê a chance perfeita para se reconstruir um novo amigo. Só que existe um grande e terrível problema nessa inusitada relação... o novo menino chamado Schmuel (ou Samuel, que é como Bruno o chama depois que o conhece) é um pequeno Judeu, e como todos naquela época, era tratado como um verme asqueroso, cercado por soldados alemães prontos para lhe machucar, caminhando sem mais esperança - ou força! - de viver com alegria. E, mesmo assim, é através do menino alemão Bruno, seu mais novo amigo, que o judeuzinho Samuel volta a sorrir. E está aí toda a carga de emoção, beleza e inteligência que o filme poderia nos transmitir: na sincera e natural amizade dos dois meninos!!!

É emocionante ver que quando Bruno (Asa Butterfield) conhece Samuel (Jack Scanlon) atrás do cercado, a primeira pergunta eufórica que este lhe faz é se tem muita comida de onde ele vem? Ora, não precisa ter mais diálogos para se complementar o terror que aquele cenário de guerra fez no menino judeu... sua transparente e sofrida pergunta já exprime todo o resumo da covardia e humilhação pelo qual ele está passando. O roteiro é fabuloso! Não há como se elogiar um filme quando não nos sentimos tocados e deslumbrados com a maneira de como os personagens são desenvolvidos, como a história é transmitida e como toda a linha narrativa do filme é colocada de maneira gradativamente espetacular. O diretor Mark Herman adaptou de forma perfeita o já extraordinário best seller de John Boyne realizando uma direção precisa, segura e totalmente envolvente. O elenco também ajuda, principalmente, Vera Farmiga (a Elsa, mãe de Bruno) que consegue mudar toda a sua forma interpretativa em reagir contra os métodos de seu frio marido. Aliás, acredito que foi ela a grande vítima de toda a estupidez que seu imbecil esposo colaborou.

Mas no entanto, é a amizade de Bruno e Samuel que mais mexe com a gente! Não há uma cena se quer, onde os dois meninos aparecem juntos que não nos sentimos compartilhados de tudo aquilo. Não são excelentes atores mirins ou crianças-prodígios como Haley Joel Osment ou Dakota Fanning, mas conseguem com naturalidade e com um envolvimento sutil, despertar em nós o carinho e a verdade que aquela relação tão cheia de obstáculos poderia nos passar. E conseguem pra valer, com muito louvor! Bruno e Samuel, diferente dos meninos de O Caçador de Pipas, jamais se afastam ou se renegam por algum motivo... ao contrário, quando tudo parecia distanciá-los de vez, é quando eles se unem no momento mais bonito e ingênuo de todo o filme... é quando, finalmente, O Menino do Pijama Listrado chega em seu desfecho e se torna uma poesia!

Essa pérola cinematográfica é a prova absoluta de que jamais foi necessário usar efeitos ou se utilizar das eloquências técnicas que o Cinema pode proporcionar para se criar um verdadeiro drama de guerra. E para um filme desse gênero, é espantoso que não haja sequer um único tiro ou sangue derramado durante toda a projeção... e foi isso que me deixou ainda mais fascinado, pois O Menino do Pijama Listrado nos dá uma aula de intolerância humana não em cenas violentas, mas apenas mostrando a dificuldade de se manter uma afetuosa e carinhosa relação entre dois pequenos amigos... só por terem etnias diferentes.

NOTA 10

PS: O velhinho que faz o judeu Pavel nos comove inteiramente, e ver ele em cena assim como observar aquela fumaça negra sendo expelida pelas chaminés dos campos de concentração, nos faz perguntar do por quê de toda aquela estúpida selvageria? Um filme que merece ser visto e revisto, mesmo que seja uma verdadeira e precisa pancada na alma.

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sábado, janeiro 17, 2009

ABISMO DO MEDO - Criaturas legais e protagonistas chatas!

Com uma sinopse simples e um desenvolvimento rápido, Abismo do Medo consegue nos assustar em cenas claustrofóbicas e tensas, apresentando uma ameaça bem interessante, apesar de não conseguir fugir do clichê e de algumas cenas completamente exageradas. (O trabalho visual do pôster do filme, no entanto, merece meus sinceros elogios!!!)

Tudo começa quando seis moças decidem explorar uma caverna (para se desestrassarem, por radicalismo, sentir novos desafios ou apenas movidas pela TPM!) e logo, percebem que haviam entrado na caverna errada porquê uma delas não trouxe o livro de expedição (é sério, não riem!). Quando já imergidas na escuridão total das grutas e nos incômodos e nervosos túneis da misteriosa caverna, as seis jovens começam a avistar estranhas criaturas antigas que habitavam o interior daquele declínio. À partir daí, e cada vez mais, uma sucessão de erros cometidos pelas seis mocinhas vão acontecendo (de forma idiota, convenhamos!) e as criaturas parecem perceber isso (os erros e a idiotice delas) e partem pra cima, aterrorizando, vitimando e assustando cada vez mais.

O filme é interessante. Não nego a falta de bom senso do roteirista que transformou algumas personagens em puro clichê cinematográfico: existe a chata, a mais chata ainda, a irritante que só sabe gritar, a medrosa pessimista, a cretina e a versão Rambo de saias (substitua apenas as metralhadoras de Stallone por uma machadinha de alpinismo); mas com tudo isso, Abismo do Medo funciona como terror, por incrível que pareça. O diretor Neil Marshall que também foi quem escreveu o filme, funciona mil vezes melhor comandando as cenas do que escrevendo o roteiro, sem sombra de dúviida, e consegue criar bons momentos de tensão, sequências angustiantes misturadas à claustrofobia e ao nervosismo das personagens e coloca o clima de suspense sempre crescente. As atrizes, pelo menos, ajudam a compor essa histeria e duas delas se destacam: a que vive a personagem Juno (a Rambo de saias na qual falei) e Sarah (a "mocinha principal", que de medrosa vai recuperando uma coragem até então inexistente... e, por vezes, absurda!). Holly e Beth, são certamente, as mais insuportáveis! Enquanto a primeira tentava sempre liderar o grupo e só fazia merda atrás de merda - a ponto até de quebrar a perna e dá trabalho em dobro pras amigas -, Beth se esforçava em ser a legalzinha, mas escondia um mau caratismo impiedoso, conseguindo ter um final tragicamente imbecil. E pasmem: mesmo morrendo, ainda delata o erro de uma outra personagem propositalmente... "muy amiga", não? (acho que merecia morrer mesmo, rs).

Por outro lado, as criaturas foram bem construídas e elaboradas! Seres meio humanóides, mas com sentidos de morcegos (como o sensor ao som e a cegueira), elas conseguem mesmo impressionar... seja no lado interpretativo (há todo um trabalho de expressão corporal muito bem coordenado) e no lado estético (a aparência dos monstrengos realmente assustam). E, ao contrário das moçoilas heroínas que se perdem a cada movimento e atitude, as das criaturas são totalmente bem osquestradas.

Bem dirigido, mediocremente escrito e com um elenco irregular, Abismo do Medo consegue ser o tipo de terror que provoca bons sustos por parte dos seres bizarros e irrita com tantas mocinhas exageradas e chatas!

Nota 6

PS: Ao menos, o filme ensina uma IMPORTANTE lição: nunca, nunca mesmo se aproxime silenciosamente por trás de alguém... ainda mais quando esse alguém estiver com uma picareta na mão depois de matar monstrinhos feiosos.

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domingo, janeiro 11, 2009

NA MIRA DO CHEFE - Uma ótima surpresa

Às vezes sou acometido por grandes e inusitadas surpresas cinematográficas! Filmes em que eu acredito serem bons me decepcionam completamente e, alguns outros, em que eu assisto sem a menor expectativa, me agradam em cheio... e é o caso de Na Mira do Chefe ("In Bruges", 2007), filme quase independente, dirigido por um estreante cineasta saído dos teatros e estrelado por três craques do cinema como o versátil Colin Farrell (Por Um Fio), o talentoso Brandan Gleeson (Coração Valente) e o brilhante Ralph Fiennes (O Paciente Inglês).

O filme, todo filmado na Bélgica (na medieval cidade de Bruges), conta a rápida - e original! - história de dois matadores de aluguel que depois de realizarem um serviço, são mandados para aquela isolada cidade a fim de realizar mais um outro pequeno serviço a mando do chefe. O problema todo começa justamente aí: o que seria uma tarefa simples, acaba saindo do controle e transtornando a todos, principalmente um dos matadores e seu meticuloso chefe.


O filme - uma comédia dramática - possui ótimos e perfeitos diálogos, e situações muito bem elaboradas envolvendo principalmente os três protagonistas centrais (os dois matadores Ray e Ken e seu chefe Harry). O roteiro sabe explorar de forma muito inteligente cada um de seus bem construídos personagens. Até os coadjuvantes são muito bem destacados, como a moça que se envolve com um dos matadores, seu ex-namorado, uma hoteleira, um vendedor de armas e até um ator anão. A história, totalmente envolvente, consegue ainda nos manter "presos" de maneira sutil com todos os acontecimentos que vão surgindo em cena, sejam eles dramáticos ou puramente hilários... e essa mistura, do drama com a comédia, acrescentado com diálogos super inspirados, me lembrou em muitos momentos, algum filme de Quentin Tarantino; como por exemplo, a conversa que Ray tem com sua namorada sobre os anões e quando Harry fala com certo personagem que acabara de perder um olho.

Se já não bastasse possuir uma ótima história magistralmente desenvolvida, Na Mira do Chefe ainda consegue extrair o melhor de cada ator. Colin Farrell, um matador em conflito que leva um peso na consciência, faz o personagem Raymond de forma extraordinária, colocando em excelente equilíbrio todo o fundo trágico e dramático de seu papel com uma gaiatice e comicidade de impressionar (reparem em seus trejeitos físicos e a maneira como entorta a cabeça para o lado e levanta os ombros num gesto meio pueril de quem não sabe dar uma resposta exata). Outro que merece muitos elogios é Brendan Gleeson, que faz o contido e racional Ken, um matador mais experiente, humano, que sempre procura analisar as coisas e realizar suas ações com muita calma e cautela, transformando-o no fim, no personagem mais íntegro de todos. E, finalmente, Ralph Fiennes, como Harry, o chefe da dupla de matadores... um indivíduo demasiadamente meticuloso, sistemático e cumpridor de regras bastante rigorosas. Seriam essas até qualidades, se o sujeito não fosse altamente perigoso!

Com todos esses deslumbrantes acertos, o diretor Martin McDonagh, que também escreveu e roteirizou o filme, e que me surpreende ainda mais por sair de peças teatrais e comandar esse seu primeiro trabalho para o cinema com muita habilidade e segurança, fez de Na Mira do Chefe, o típico "pequeno grande filme" que nos envolve, nos emociona e nos faz rir de maneira espontânea e com muita inteligência.

Nota 9

PS: A única seqüência sonorizada por uma música, é também pra mim, a mais emocionante de todo o filme!

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sexta-feira, janeiro 09, 2009

APENAS UMA VEZ - Amor e Música numa linda obra

Definitivamente Apenas Uma Vez não é um musical. Embora, trate sobre música do início ao fim, ele é apenas um filme romântico - e o "apenas" é eufemismo para dizer que se trata de um dos mais belos e sensíveis romances independentes feito nas últimas décadas.

A simplista e bem conduzida história gira em torno de um casal de músicos: ele, um cantor que trabalha consertando aspirador de pó e que toca violão nas ruas de Londres para ganhar mais trocados e divulgar suas composições. Ela, uma delicada pianista que vende revistas e flores e que de vez em quando, também canta. Depois de uma abordagem rápida na calçada, onde ele acabara de executar uma de suas - ótimas! - canções, ela pede para que ele conserte seu aspirador quebrado e logo, os dois começam a sair juntos, a se conhecerem e aprenderem simultaneamete a admirar e a gostar um do outro, mesmo que tais sentimentos fiquem implícitos nos gestos e em algumas palavras; um detalhe que me lembrou muito do também romãntico Antes do Pôr do Sol, com Ethan Hawke e Julie Delpy.

Apenas Uma Vez surpreende justamente por esses pequenos entrelaces espirituosos, instintivos e carinhosos entre o casal, criando um relacionamento palpável, profundo e muito sensível. Afinal, apesar de estarem sempre sorrindo um para o outro, ambos possuem dramas em suas vidas e nos seus passados. E o maravilhoso desenvolvimento do roteiro, consegue explorar isso com delicadeza e amorosidade, fazendo acreditarmos nas atitudes e nos sentimentos daquelas duas pessoas.


Com o estilo "câmera-na-mão", o inteligente diretor acaba optando por uma linguagem estética de documentário, o que fortalece ainda mais o "clima real" do casal e enriquece totalmente o visual com elementos técnicos simples e diretos de câmeras, como o zoom lento ou o "tripidar da lente" acompanhando os personagens, em algumas tomadas.

Mas o trunfo do filme, além, é claro, da relação crescente e vigorosa daquele casal, é a fabulosa trilha sonora escolhida com maestria pelo diretor e, provavelmente, composta especialmente para a produção. Arrisco até em dizer que, se as músicas cantadas pela dupla de protagonistas fossem executadas de verdade por aí a fora, teríamos sem dúvida, dois novos artistas de sucesso no cenário musical! Duas canções em especial me marcaram bastante: a que é cantada no violão e piano por eles dois num dueto, dentro de uma loja de instrumentos, e uma tocada no final, com a banda toda no estúdio fonográfico. Mas não posso esquecer também daquelas que me emocionaram, como a que ele canta segundos antes dela aparecer pela primeira vez, e uma que ela canta no piano sem chegar no final.


A química do casal foi tão imensa e natural, que fica difícil não o adorarmos de imediato e torcermos para que fiquem juntos... e embutido a isso, eu fiquei numa enorme vontade de vê-los sendo mais explorados pelo ótimo script. Uma curiosidade é que em nenhum momento os nomes dos protagonistas são ditos. Nos créditos finais, ele está como "cara" e ela como "garota". Mas, talvez, a falta de nomes seja uma interessante metáfora de que quando relacionamentos são fortes e verdadeiros não se precisa de nomes para nos entregarmos de coração.

NOTA 8,5

PS: Algo me diz que a frase na língua Tcheca "Noor-ho-tebbe", que ela diz para ele em um bonito momento do filme, e que ele fica sem a tradução pois ela intencionalmente não revela, quis dizer: "Eu amo você!".

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quinta-feira, janeiro 08, 2009

UM CRIME AMERICANO - Impiedosamente cruel

Há muito tempo não assistia uma obra tão forte e intensa quanto Um Crime Americano. Não falo de cenas sangrentas ou sequências de morte. Mas falo daquilo que pode ser o mais perturbardor para a alma e o que faz nossos corações sangrarem diante de tanta crueldade contra uma inocente e indefesa menina. Sylvia Likens conheceu esse verdadeito horror de frente e sofreu todas as dores que a maldade humana poderia lhe causar, desde o terror psicológico às torturas físicas. E seu carrasco atendia por um nome feminino e complicado: Gertrude Baniszewski.

O filme escrito e dirigido por Tommy O'Haver, baseado em fatos reais ocorridos na década de 60 no estado de Indiana, Estados Unidos, mostra de maneira direta e sem floreios, toda a tragédia que envolveu as famílias Likens e Baniszewski... mais precisamente, a jovem Sylvia Likens e sua irmã mais nova, Jenny Likens.

Depois de serem deixadas pelos próprios pais, por algumas semanas, aos "cuidados" de uma senhora aparentemente regrada, Sylvia e Jenny começam a perceber o controle rígido e obcecado que Gertrude Baniszewski exercia sobre seus filhos. Mas é curioso percebermos o comportamento dúbio dessa mãe de seis crianças; Gertrude é capaz de frequentar a igreja assiduamente, se relacionar de maneira amistosa com o Reverendo e com a vizinhança, e parece sempre pronta para ser prestativa para quem quer que seja. No entanto, toda essa "simpatia", esconde uma dona de casa frustrada, emocionalmente descontrolada e, algumas vezes, até vulgar, chegando assediar rapidamente o pai de Sylvia e Jenny e se insinuando até mesmo para Ricky, um garoto retraído que parecia só ter 15 anos de idade. Não demora muito para Gertrude exibir todo a sua violência, colocando como "desculpa" para suas atrocidades, o senso protecionista que possuía para com seus filhos! Se no princípio, achamos que ela era rígida e autoritária com quem fosse para manter a imagem imaculada de sua família, logo a vemos se transformar num monstro cruel e sem nenhuma intensão de separar mais o que era o certo e o errado. Pode ser que o único momento de reflexão mais nítido que aquela maldosa mulher teve perante os atos absurdos que fazia, foi durante um rápido desabafo dentro do porão enquanto esfregava um pano umedecido no rosto de sua vítima... mas nesse minuto, por tudo que já havia feito com a menina Sylvia, era tarde demais para qualquer tipo de arrependimento.

O filme é implacável nas cenas de punição e castigo que Gertrude Baniszewski realizava. Nada é mostrado explicitamente, mas apenas as imagens sugestivas que uma ponta de cigarro, um ferro em brasa ou uma garrafa de coca cola pode causar, são perplexamente chocantes e é algo que nos perturba profundamente. Sylvia Likens foi massacrada, humilhada e colocada como um animal para apenas servir como bode expiatório ou uma terrível amostra do que aquela mulher insana, que se dizia dona de casa, faria com quem saísse de seu controle. E é dolorosamente triste e penoso testemunharmos pessoas de fora, como os vizinhos que ouviam os gritos mas preferiam ser omissos ou os perversos jovens que iam até o porão para destruir ainda mais Sylvia, sendo manipulados pelas ações e atitudes que aquela louca e maligna mulher causou contra um único ser humano.

Mas Um Crime Americano certamente não teria o impacto que teve se não tivesse duas atrizes poderosas interpretando as duas personagens principais. É claro que a atriz Ari Graynor, que fez Paula Baniszewski, a filha mais velha de Gertrude e talvez as outras crianças tenham colaborado para a força do filme, mas é realmente Catherine Keener (de O Virgem de 40 Anos) fazendo Getrude Baniszewski e Ellen Page (de Juno e Menina Má.Com) como Sylvia Likens, que carregam com toda a força o filme em seu mais alto teor de tensão e angústia. Mesmo que Catherine Keener faça de Gertrude uma mulher desequilibrada, cruel e completamente má, a talentosa atriz também nos passa - por mais sutil que seja! - elementos humanos na vilã, como sua constante tosse provocada pelas crises de asma que sofria e durante aquele tortuoso desabafo no porão. E Ellen Page mais uma vez brilha mostrando que é uma das melhores atrizes de sua geração, tranformando Sylvia num ser frágil, aquebrantado e sofrido, que mesmo por um leve sorriso ou por um olhar mais terno, nos faz acreditar plenamente que aquela menina tão ingênua e simples, tinha uma alma bondosa e pura que foi completa e covardemente destroçada.

E pra mim, é revoltante saber que, mesmo de maneira primária e irracional, as crianças que entraram naquele porão e os vizinhos que se omitiram em chamar a polícia, colaboraram direta e indiretamente com toda aquela perversão e, no final de tudo, também foram coniventes com todo o crime praticado naquela casa!

NOTA 9

PS: "Eu conhecia Sylvia e sabia que ela chorava, mas nunca mais a vi chorar... mas acho que é porquê ela já não tinha mais lágrimas para derramar!", essa frase dita ao final do filme pela irmã de Sylvia, Jenny Likens, define bem todo o pesadelo por qual a menina havia passado.

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quarta-feira, janeiro 07, 2009

PROCURANDO AMANDA - Entediando o Espectador

Eu adorava Matthew Broderick nos anos 80. O ator, pra mim, era um dos melhores atores jovens de sua geração e realizava ótimos filmes que nos faziam gostar ainda mais dele. Afinal, quem nunca viu e não gostou de O Feitiço de Áquila, Projeto Secreto Macacos e, talvez, aquele que tenha sido seu maior sucesso: Curtindo a Vida Adoidado? Onde Broderick interpreta maravilhosamente o carismático matador de aulas Ferris Bueller, o transformando num ícone para todos os adolescentes daquela época... inclusive, eu! Lamentavelmente, do fim dos anos 80 pra cá, Broderick parece não saber mais escolher seus projetos e caminha irregularmente entre fracassos estrondosos (como Godzilla) e filmes medianos (como Os Produtores e Um Natal Brilhante) se afastando cada vez mais de fazer algo arrebatador como Ferris um dia fez. E Procurando Amanda é mais uma obra do ator, infelizmente, a ser esquecida!

Com alguns pesinhos a mais desde que fez o simpático A Lente do Amor, com a musa das comédias românticas Meg Ryan, Matthew Broderick volta a fazer um tipo desajeitado, de jeitão perdedor, mas que no fundo, possui uma boa alma e quer melhorar. O problema é que seu personagem é um produtor de programas de TV decadente, viciado compulsivo em jogos e ex-viciado em álcool e drogas. Imagine agora quando esse mesmo sujeito tão cheio de fragilidades, resolve ir para Las Vegas (a terra dos cassinos) tentar convencer a sobrinha (a Amanda do título) que acaba de virar prostituta a entrar para uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, já que ela também acaba de se tornar viciada? Com essa sinopse rasteira, o filme até inicia de forma interessante, dando indícios de diálogos rápidos e bem sacados mostrando uma desenvoltura na narrativa bem sedutora... ledo engano! Após os 15 minutos iniciais, percebemos que o roteiro parece caminhar, caminhar, caminhar e nunca dizer realmente para o que veio. Os diálogos comecam a se tornar repetitivos e desinteressantes, e até mesmo o personagem de Broderick cai na armadilha de ser transformado pelo roteirista e diretor Peter Tolan em mais um bobão que só quer resolver as coisas da melhor maneira, mesmo se comportando como um completo irresponsável. Desconfio que o personagem de Broferick, chamado Taylor Peters (que é quase um anagrama de Peter Tolan, o nome do diretor!) seja uma espécie de alter-ego do cineasta, já que o filme formula em alguns rápidos momentos de cenas, uma espécie de documentário. Resta saber se esse fraco diretor fez mesmo uma "auto-biografia".

Mas admito que o elenco é bom, desde Broderick (que mesmo escolhendo estupidamente seus personagens e filmes, continua um competente e carismático ator), passando por sua preocupada esposa interpretada por Maura Tierney até a simpática rebelde Amanda, feita pela jovem atriz Brittany Snow, que apesar de fazer uma personagem totalmente amoral e imoral, nos convence de sua louca simpatia misturada aos seus tormentos pessoais. Só é chato notar que nenhum atrativo foi criado para que gostássemos ainda mais desses personagens, seja numa história cativante ou numa direção firme e envolvente. Até há pouquíssimos momentos inspirados; mas quando uma situação interessante rapidamente acontece, ela é logo jogada no lixo na mesma velocidade que apareceu.

Sem nunca conseguir completar alguma lição de moral tantas vezes apresentada pelo diretor-roteirista, ou pelo menos transmitir alguma mensagem proveitosa se quer, e desperdiçando parcialmente o talento dos atores com personagens perdidos em cena, Procurando Amanda acaba se tornando uma comédia dramática que falha vergonhosamente tanto no drama quanto na comédia. E no final, constatamos que Broderick, ao menos, poderia sim ter escolhido um filme bem melhor!

Nota 4.

PS: A faxineira do Hotel tem a cara da Helen Mirren!!!

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terça-feira, janeiro 06, 2009

SESSÃO NOSTALGIA: Perseguidor Implacável (1971)

Navegando pela internet em sites para downloads de filmes, deparei-me com um link de um clássico do gênero policial, que não só se tornou uma obra cultuada na época que foi lançado até os dias de hoje, como para muitos, foi o filme responsável pela revolução na linguagem dos filmes policiais... um verdadeiro divisor de águas. Estou falando de "Dirty Harry"! Ou, Perseguidor Implacável, título que ganhou aqui no Brasil.

Se antes, em meados de 40, 50 e 60, o cinema americano estava acostumado com bravos heróis puros como os guerreiros valentes, piratas destemidos e cowboys corajosos, foi na década de 70 que Hollywood começou a experimentar os anti-heróis; indivíduos que mesmo dispostos a enfrentar o mau e determinados a acabar com os bandidos, não abriam mão de seus métodos pessoais para acertar as contas com o crime - mesmo que para isso, eles tivessem que torturar violentamente algum informante, quebrar os dentes de alguma autoridade ou até mesmo dar uns bons tabefes em mocinhas bonitas. Personagens como Frank Bullet (Steve McQueen), Paul Kersey (Charles Bronson) e até mesmo Michael Corleone (Al Pacino) faziam a Justiça valer à seus modos! Mas nenhum personagem resumiu tão bem a forma fria e violenta como o marcante policial Harry Callahan, feito por Clint Eastwood. Mais conhecido por "Dirty Harry", o "sujo" Harry" (apelido que outros tiras o deram pelas suas ações nada convencionais contra a bandidagem), o Inspetor de São Francisco sisudo e calado, sempre preferia atirar primeiro para perguntar depois. Inclusive, até desconfio que a poderosa Magnum .44, revolver com alto poder de fogo capaz de abrir uma cabeça, só foi difundida pelo mundo à fora, por causa desse personagem tão icônico.

Mas não se enganem! O filme não é só violência, sangue e tiros... aliás, se for compará-lo com os atuais filmecos de ação, ele perde feio em matéria de cenas sanguinolentas. O que Perseguidor Implacável tem de tão bom é justamente a narrativa da história e a abrangência gradativa com que o roteiro vai expondo seu personagem central. Dirty Harry não é um robô indestrutível da Lei que sai pelas ruas matando. É apenas um policial que observa seu caso se diluindo com a burocracia lenta e cheia de incoerências das autoridades e testemunha cada vez mais o seu principal suspeito escapando impunemente para cometer mais assassinatos, devido os erros constantes gerados pelo interesse do poder público e pela sociedade hipócrita que firma seus tolos argumentos para proteger os que estão à margem da Lei. Há um diálogo excelente entre Dirty Harry e um promotor público que exemplifica bem essa imbecilidade que, às vezes, inutiliza uma ação policial: "Sem provas não podemos prender ninguém! E além do mais, os Direitos Humanos quer proteger esse homem!" (diz o promotor para Harry). "Eu não pude colher provas porque ele tinha um prazo pra matar a garota! E o que os Direitos Humanos fará agora com a menina encontrada nua e rasgada dentro de um buraco que esse pulha matou?". Enfim, Clint Eastwood está ótimo como Dirty Harry, mas merece destaque também o ator Andrew Robinson que faz o serial killer chamado de Scorpio.

Embora um tanto maniqueísta, o roteiro apresenta bons e diretos diálogos. Há quem ainda acuse Perseguidor Implacável de ser fascista, mas não é de se estranhar que quando o crime chega a um patamar tão consistente e emergencial, seja onde for, policiais precisem agir logo! E não defendo aqui a Justiça com as próprias mãos, mas defendo simplesmente a vontade enérgica e também emergencial de alguém que precise resolver logo as coisas. E se autoridades, governantes e qualquer outro tipo de supremacia burocrática esteja inerte e se perdendo em seu próprio novelo de conceitos e teorias, é normal que haja pessoas que comecem querer logo a prática... e Harry Callahan é apenas mais um símbolo disso. Muitas vezes, e em sua maioria, mal compreendido.

Uma curiosidade: os assassinatos do vilão do filme, foram inspirados no serial killer que existiu de verdade e que atacou São Francisco na década de 60, ocasionando o famoso caso do Assassino do Horóscopo, uma história que foi levada às telas com mais detalhes no filme Zodíaco, de 2007.

NOTA 9

PS: Por coincidência, no mesmo dia que assisti Perseguidor Implacável, acabei encontrando um blog de cinema onde um outro cara escreveu uma crítica bem legal e mais resumida sobre o filme. O blog se chama Resenha de Filmes (também está linkado aqui no Comentando Cinema, na seção dos Blogs), e seu autor agora é um cinéfilo amigo!

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