segunda-feira, fevereiro 23, 2009

CAOS - Uma interessante trama policial

Poucos são os filmes policiais que saem diretamente para o DVD que possuem uma trama realmente engenhosa. Claro que há vários enredos que nos chamam atenção à primeira vista, mas que aos poucos, durante o desenvolvimento da história, começam a tornar-se enfadonhos, repetitivos e tendem a se "perder" nas próprias reviravoltas e surpresas jogadas pelo roteiro. Ainda mais quando o filme policial possui vários elementos para ser uma ação escapista do que um suspense investigativo, como é aparentemente o caso de Caos ("Chaos", de 2005) que nos exibe logo de cara, dois atores ícones do cinema de ação contemporâneo, que é Wesley Snipes e Jason Stathan. Mas não se enganem, pois apesar de terem esses dois marcantes atores do gênero, o filme consegue mesclar muito bem a ação adrenalínica com uma história que prioriza todos os pontos narrativos de maneira inteligente.

Apresentando logo de início, uma introdução que parece "apenas" mostrar o resultado de uma ação que definiu o destino do personagem principal (Stathan, muito bem no papel), o filme ganha pontos rapidamente quando já "revela" que esse tal acontecimento ainda poderá explicar muitas coisas no futuro dos personagens. Concebendo a partir daí, uma trama bem amarrada com cenas pseudo-explicativas e que ainda terão mais significados à frente, Caos consegue a proeza de nos enganar com pequenos detalhes inseridos numa ação ou num diálogo, que facilmente nos pode passar despercebidos. Os poucos personagens apresentados a nós, não são jogados ao acaso e a história se firma cada vez mais, quando percebemos que a investigação inicial, é na verdade uma intriga maior e mais nebulosa que envolve o passado do mocinho e do bandido ao mesmo tempo (não se preocupem, não estou revelando nada). No meio disso tudo, um jovem policial precisará resolver toda a problemática dessa emaranhada investigação, e é aí que o filme mostra sua força!

Interpretando dessa vez o vilão, Wesley Snipes não muda muito o seu estilo interpretativo; exibindo aquele olhar sempre enérgico de ator de ação, com o seu ar "debochado" (dessa vez, mais acentuado) e aquela ginga de lutador, o ator oferece uma boa performance - mesmo que rápida. É eficiente em pelo menos nos mostrar que ele não é meramente um assaltante de Bancos, mas pode ser talvez, um homem que quer colocar um plano maior em evidência. E outro ator de ação que se sai ainda melhor que Snipes (até porque é realmente o nome principal do filme!) é o carequinha Jason Stathan, mostrando nessa produção que não é só um artista marcial, mas é também um cara que sabe realmente atuar! É dele as frases mais curiosas e as tiradas mais engraçadas. Fazendo um policial durão, mau humorado e sacana (algo que Bruce Willis também adoraria fazer, e que já domina há um bom tempo!), Stathan também aproveita pra exibir um lado mais humano, engraçado e divertido com seu personagem, chegando a dar um sorriso sincero onde pouquíssimas vezes o vimos fazer em cena - que o diga seus exagerados heróis sizudos em Carga Explosiva e Adrenalina. No elenco também está o veterano Henry Czerny, mas ele tem apenas pequenas aparições e só serve mais para enfeitar o desenvolvimento do personagem de Stathan.

E no meio a esses astros de certo renome, está o jovem Ryan Phillipe (de Segundas Intenções, seu filme mais marcante), mostrando sua semi-inexpressividade como ator e provando o porquê não é chamado para muitas produções até hoje. O irônico é que para um filme tão acima da média, comandado de forma tão segura e criativa pelo diretor e roteirista Tony Giglio e que consegue extrair boas interpretações de Snipes e Stathan, o insosso Ryan Phillipe seja quase que o personagem condutor de toda a história. Esse foi apenas o meu único incômodo durante toda a projeção: reconhecer que o papel de Phillipe, era mesmo aquele que interligaria toda a narrativa e se mostraria o segundo personagem principal, depois do competente Jason Stathan.

Ainda bem que, mesmo não gostando da atuação de Ryan Phillipe, devo admitir que o filme se sobressai pela inventiva e bem entrelaçada trama policial, fazendo com que Phillipe não comprometa gravemente a produção... embora, Jake Gyllenhaal, Casey Affleck ou qualquer outro jovem ator vigorosamente esforçado, teria feito um trabalho visivelmente melhor!


Mas Caos é mesmo bom e merece ser visto sem qualquer receio.

NOTA 7,5

PS: Jason Stathan tem tudo para começar a escolher significativos trabalhos no cinema e deixar um pouco de lado, essa "fama" de herói de ação desenfreada, pois o ator mostrou ter certo talento e muito carisma!

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quarta-feira, fevereiro 18, 2009

CORALINE E O MUNDO SECRETO - Uma fábula animada nada infantil

Atualmente os desenhos animados avançaram por um campo muito rico que é o da tecnologia da animação. Praticamente, vemos produções da Pixar, da Dreamworks e da Disney arrebatarem prêmios por suas mirabolantes e perfeitas técnicas visuais. A narrativa também é outra área muito bem explorada hoje em dia, com roteiros minuciosamente bem trabalhados, e diálogos e situações que nos remete à filmes cinematográficos. Apenas um único elemento essas grandes empresas de animação possuem em comum: o seu público alvo. Embora, alguns desenhos trate de temas mais avançados e elaborados que jovens e adultos se apegam, o tom e o clima de humor infantil continua lá... irretocável com a presença de seres engraçadinhos, bichinhos tresloucados e personagens cômicos. Todos, em sua maioria, voltados exclusivamente para as crianças! Mas é difícil - e até RARO - uma produção animada numa técnica bem mais pueril que é a do stop motion com massinhas, conseguir ser completamente envolvente de maneira séria e adulta. E Coraline e O Mundo Secreto ("Coraline", 2009) é exatamente assim!

De Henry Sellick, o mesmo diretor do inovador O Estranho Mundo de Jack e do carismático James e o Pêssego Gigante, e à partir dos contos de Neil Gaiman, autor de famosas Histórias em Quadrinhos e Livros, Coraline e O Mundo Secreto possui as mesmas características visuais de seus antecessores (personagens esticados, visual alegórico e tom sombrio) numa história totalmente reflexiva e, até em alguns pontos, assustadora! Utilizando a charmosa técnica da animação quadro a quadro com massas de modelar e cenários feitos em maquetes, Coraline já quebra qualquer convenção dos desenhos animados em agradar criancinhas logo em suas cenas iniciais, quando exibe em sua abertura, uma mão medonha de ferro costurando os olhos e as bocas de bonequinhos de pano, de uma maneira bem agressiva e impactante. Quero dizer, para alguns... já que muitos jovens e adultos devem achar a sequência inicial até comum. O curioso é começarmos a compreender - aos poucos! - a história sombria, melancólica e falsamente feliz de Coraline. Assim que se muda com seus pais para um local aparentemente calmo, mas que sempre chove muito, a menina (que aparenta uns 9 ou 10 anos, mas que o roteiro nunca revela) conhece logo o inquieto Wybie, um garoto meio nerd que adora andar de bicicleta com suas estranhas máscaras artesanais. Aparentando também ter a mesma idade da pequena e espivitada Coraline Jones, o garoto a entrega uma bonequinha de pano com olhos de botões que chama a atenção da menina, mas que será apenas um pequeno elemento de uma trama muito mais elaborada e espantosa. E o "espantosa" aqui, não é só um termo de surpresa, mas sim de espanto mesmo, de terror, já que quando conhecemos a real história dos "outros pais" de Coraline e da realidade do tal "Mundo Secreto" do título, começamos a perceber que a vida da protagonista e de seus verdadeiros pais, podem estar correndo perigo, assim como a vida do vizinho acrobata e das vizinhas ex-vedetes.

Muito bem escrito, com passagens até filosóficas narrativa e visualmente, Henry Sellick demonstra um total domínio em sua direção, conseguindo nos fazer refletir em um simples sorriso forçado de determinado personagem, como num bem construído diálogo entre Coraline e sua "outra mãe". Reparem, por exemplo, no visual aterrorizante quando esta se revela para a menina num momento crucial do enredo, ou então no inusitado cortador de grama do "outro pai" que, se num momento da história se apresenta como uma ferramenta divertida e engraçada, em outro, se mostra como uma assustadora e mortífera máquina destruidora. Aliás, são nessas pequenas sutilezas e nos ricos detalhes escondidos em cada canto de Coraline, que Henry Sellick consegue montar com muito brilhantismo uma produção de encher os olhos... e a mente! E acredito com toda a certeza que muitas crianças podem não entender o ritmo da história e muito menos se adaptar ao estranho e sombrio mundo apresentado pelo diretor, mas arrisco em dizer que jovens mais maduros e adultos já habituados às produções mais fechadas de animação, vão adorar! Com uma leve inspiração em Alice no País das Maravilhas, Coraline, magistralmente, joga todo aquele conceito de um mundo fantástico descoberto pelos olhos de uma criança num caldeirão maquiavélico e subliminarmente reflexivo.

E é de se admirar que a técnica do stop motion de massinhas, que é uma habilidade já consagrada pelo clássico Wallace e Gromit, e que sempre serviu para nos contar histórias animadas com diversão e leveza, seja aqui utilizada para nos revelar uma rica trama de falsidade, domínio emocional e superação pessoal.

PS: Infantil mesmo, só o rostinho dos bonecos.

NOTA 8.5

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