segunda-feira, dezembro 15, 2008

O CAÇADOR DE PIPAS - Melancolicamente bonito

Há filmes que nos despertam alegria, outros nos despertam revolta e há ainda aqueles que nos fazem refletir; sobre muitos aspectos em nossas vidas. O Caçador de Pipas está nessa última categoria... mas mesmo que ele tenha como mensagem principal a reflexão à respeito de nossos atos, é também um filme que nos provoca certa revolta e certa alegria em alguns de seus momentos mais intensos.

Para começar essa crítica, é necessário dizer que não estamos diante de um típico filme hollywoodiano.
O Caçador de Pipas - inspirado num Best Seller homônimo escrito por um Palestino - abrange a amizade, a honra paternal, a tradição da família e da cultura paquistanesa e afegã e, principalmente, o quanto de devoção estamos disposto a dar aos sentimentos e à consideração humana. E é nesse quesito, das emoções e da tolerância e aceitação, que o filme conquista qualquer um... e o fato de que durante toda a projeção, não vemos sequer nenhum rosto ocidental e muito menos qualquer participação de atores americanos, já faz com que acreditemos que essa obra superou grandes desafios de público e, por isso mesmo, já merece notórios elogios pela qualidade que manteve em sua lição!

Amir Jan é um menino mimado e frágil, criado com todas as regras e leis que seu pai, um rígido e honrado paquistanês de posses, foi capaz de lhe transmitir. Hassan é um menino afegão, filho do empregado do pai de Amir, que nunca teve tantas oportunidades de futuro, mas que vivia o presente com força, alegria e, principalmente, muito caráter. Apesar de diferentes no jeito pessoal e social, Amir e Hassan viviam juntos e se divertiam juntos, compartilhando uma brincadeira em comum que os unia ainda mais: a tradicional disputa de pipas na região.

O problema é que Amir, o menino rico, parecia não mergulhar de verdade na amizade a qual Hassam, o "Hazara" (termo preconceituoso que definia os afegãos), sempre o demonstrava. E foi durante uma impiedosa cena, em que Hassam é a vítima, que começamos a compreender o jeito ingenuamente covarde do menino rico, quando este se omite a ajudar o amigo. Depois disso, uma crescente rebeldia sentimental domina o fraco Amir, pela situação que o colocou como testemunha passiva e prostrada do mal que fizeram com o bonsodo Hassam, e cada vez mais, os dois vão se afastando fisicamente... e moralmente. Anos mais tarde, vemos Amir vivendo na América como um bem sucedido escritor de livros enquanto que Hassam continuou no Afeganistão, com todas as sua dificuldades.

O filme começa de maneira lenta, mas envolvente, para mais tarde, revelar que depois da ocupação Russa no Afeganistão, não só a política do local mudou, como os sentimentos dos próprios povos das regiões vizinhas foram transformadas, um contra os outros. A cidade na qual Amir e Hassam viviam, tornou-se um acúmulo de destroços, demarcando os territórios liderados pelas milícias afegãs. Mas é na volta "forçada" de Amir ao local de origem, que muitas descobertas começam a tomar forma, até que o mais bonito acontece: o jovem adulto Amir percebe o quão errado foi com Hassan e está mais do que nunca disposto e propenso a querer melhorar... afinal, não se trata apenas de um pedido de "desculpas" em atos feito por Amir, mas sim, de tentar ao menos, dar um futuro melhor para uma nova criança que ele pretende agora salvar. E que, assim como foi com Hassan, seu melhor amigo, este novo menino só precisa de alguém que o dê mais esperanças!

Dirigido com muita delicadeza por
Marc Foster (diretor alemão que recentemente comandou a nova produção de 007), o filme ganha na ótima trilha instrumental, na fotografia sutil, porém, marcante e, principalmente, na forma simples e direta das interpretações de todos os atores - não ocidentais - envolvidos nesse belo projeto. E se um filme precisa lançar uma mensagem bonita dentro de um contexto triste sem ser piegas ou clichê, O Caçador de Pipas, é com certeza, um dos melhores representantes!

*NOTA 8


PS: A realidade das crianças paquistanesas e afegãs, vítimas dessas guerras absurdas e desse conflitos imbecis por terra e religião, torna-se um agravante ainda maior do que analisar as ideologias, políticas e crenças desses povos que parecem só pensar em brutalidade do que na humanidade de seus próprios semelhantes. E se, já é doloroso testemunharmos muitos daqueles meninos com fome, amontoados em alojamentos improvisados ou escondidos em galpões e escolas, é ainda mais doloroso saber que alguns deles ainda são pegos por sheiks ou líderes de grupos terroristas para servirem como "distração" ou serem treinados para virarem futuros soldados. E esses meninos aceitam... apenas para não morrerem!

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1 Comments:

Blogger D. T. S. said...

Tem um fato que achei interessante sobre esse filme:
Acho muito mais interessante os fatos da produção do filme do que do filme propriamente dito.
Não o acho um filme ruim, só não o acho tão bom assim. Sem contar que Foster é um diretor sensível mas superestimado. Acho que ele têm muito pra provar ainda.
Daria um 7.

2:44 da manhã  

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