segunda-feira, julho 16, 2007

TURISTAS - O filme trash que humilhou os brasileiros



Os filmes trash foi uma definição criada a partir da década de 80 que identificava uma obra cinematográfica realizada de forma artisticamente mal feita e com recursos técnicos de quinta. Grandes exemplares caíam mais para o gênero do terror e da sanguinolência. Alguns até, alcançaram uma aura cult e se transformaram em clássicos como Fome Animal (do diretor Peter Jackson, antes de sonhar com o celebrado O Senhor dos Anéis) e Re-Animator (o filme que deu o pontapé inicial para os zombies-movies). Mas a maioria não passava de puro entretenimento barato e risível, destinado àqueles fãs mais puristas que não ligavam para o roteiro desde que o filme tivesse cabeças rolando no chão, pescoços esguichando sangue e órgãos sendo devorados explicitamente por zumbis canibais. Turistas revive esse clima da forma mais incompetente... tentando se passar por filme sério!

Completamente horroroso no aspecto técnico e artístico, o filme empurrado para o Brasil através de muitas polêmicas e críticas, consegue ao menos aquilo que se destinaram a fazer: alfinetar de maneira patética e humilhante toda a nossa imagem e cultura popular que passamos ao estrangeiro. Em menos de 3 minutos de filme, já podemos observar um ônibus inteiramente sujo e velho (provavelmente, um ônibus pirata!) com tipos de passageiros que parecem mais uma mistura de bolivianos, colombianos e guatemalos (talvez, seja essa a imagem que eles têm do brasileiro mix). Logo, mais adiante, descobrimos também que os americanos acham que aqui não se pode fotografar crianças (algo a ver com pedofilia?) mostrando um pai estupidamente raivoso que demonstra mais ignorância do que contrariedade (aliás, desconfio que a imagem lá fora, do brasileiro pobre em questão, seja mesmo de um povo selvagem e primitivo). O engraçado também é que a cachaça e a caipirinha parecem ser os únicos líquidos que nós, brasileiros, bebemos. Ou seja, além de estúpidos analfabetos que somos, também somos cachaceiros. Grande imagem!


Os diálogos então, são mais uma afronta à parte. Numa conversa entre os dois turistas americanos, um deles diz que gostaria muito de ir à Floripa (Florianópolis) porquê lá encontraria mulheres bonitas e gostosas. No que o outro complementa dizendo: "É, as brasileiras são ótimas! São mulheres divertidas, alcoolizadas e loucas por gringos excitados!", quando todos depois em uníssono, emitem uma sonora gargalhada. Em outras palavras, as brasileiras são putas. E isso, lamentavelmente, está estampado no filme inteiro sempre que aparece alguma brasileirinha. É como se toda mulher brasileira mais humilde precisasse ser golpista e transar com suas "vítimas" (entende-se por "gringos excitados") para arrancar o dinheiro dos otários desavisados. Outra frase revoltante é quando mais um desses turistas sábios e inteligentes que gostam de uma fumada na erva, se vê perdido no meio da floresta e dispara uma frase estupenda: "É melhor ter muita maconha nessa casa!", referindo-se que estaria feliz, se encontrasse na casa que estava sendo levado por um brasileirinho, uma grande quantidade de maconha. Repare que ele diz MUITA e não apenas "É melhor ter maconha nessa casa". Para bom entendedor, é como se todas as casas brasileiras tivessem maconha... mas a preocupação dele era se a quantidade seria satisfatória. Será que além de analfabetos ignorantes, cachaceiros e prostitutas, também seria da nossa natureza sermos todos viciados? Linda imagem. Outras frases igualmente ofensivas são ditas durante todo o filme, como "Por que tudo demora tanto nessa merda de lugar?" (notando-se que eles estão no meio de uma estrada de terra cercados por matos e achando que ali, provavelmente, deve circular algum ônibus num fluxo gigantesco de carros e pedestres!). No entanto, infelizmente, tenho que concordar com algumas observações dos diplomáticos turistas. "Sabe por que eu quis vir para o Brasil? Porquê gosto de mulher, de festa e de beber! E para atrair os turistas, eles dizem "venha para o Brasil!", um dos turistas explica isso. E com certeza, talvez essa propaganda que nossas agências de turismo faz lá fora, tenha seduzido não só esse americanozinho, mas metade dos estrangeiros que vêm em nosso país como se estivessem indo a um Bordel nacionalizado, graças à essa imagem que as agências projetaram. Em outro determinado momento, um dos rapazes pergunta a amiga: "Procurar os policiais? Mas eles não são piores que os bandidos?", no que ela calmamente responde: "Nem todos". É, admito que a violência promovida por alguns policiais brasileiros que se tornaram manchetes internacionais e veiculados de forma massiça nos jornais de todo o mundo, como foram os casos das chacinas em comunidades carentes, assuste bastante países que possuem seus guardas apenas munidos com cacetetes. Mas perguntar se nossos policiais são piores que bandidos, chega a ser um deboche sem tamanho! Outra "engraçada" é quando um dos americanozinhos curiosamente pergunta ao nosso guia tupiniquim: "Que estrada leva até essa casa?", e o brasileiro responde: "Nenhuma!". E o americano ainda confuso se indaga: "Nenhuma? Mas qual casa não fica em estrada?". Uma pergunta aparentemente inocente para alguém que, talvez, não conheça de perto nossas favelas nos altos morros! Mas certamente, a cena que destaco dentre todas essas pérolas proferidas pelos sensatos turistas, é uma bastante simbólica, na qual um deles está apertado para urinar e sai da trilha que percorriam. O outro colega pergunta aonde ele está indo. E ele responde tranquilamente: "Ao banheiro masculino!", e logo o vemos mijar cantarolante em nossas plantas.(Seria essa uma mensagem subliminar de como os americanos tratam a nossa terra?).


Bom, se já não bastasse todas essas menções horrorosas à nossa dignidade e moral retratada nesse sofrível roteiro(?), somos testemunhas de um filme que tropeça em todos os elementos técnicos de cinema, como uma fotografia escura e opaca, uma direção amadora que extravaza em cenas escatológicas e sanguinolentas e uma direção de arte e figurino que parece colocar todos os brasileiros coadjuvantes como miseráveis. Bom, quando não eram pobres famintos, eram piranhas golpistas ou traficantes mercenários. E a trilha sonora então? Com toda a certeza desse mundo, Marcelo D2 deve ter tido uns royalties bem gordos para deixar que utilizassem a maioria de suas músicas. Aliás, funk e rap, também parece ser o nosso som oficial, já que os tais turistas adoram! Uma delas inclusive, relata que a "letra" de um desses terríveis funks é bem safada. Uma triste realidade, enfim.

Com um elenco inteiramente limitado, "Turistas" se disfarça de filme e tenta contar uma história absurda onde um "vilão" cartunesco com pinta de europeu, extrai órgãos de estrangeiros para vender no mercado negro. Aliás, muitos desses órgãos retirados à força dos corpos de suas vítimas, são enviados para os Hospitais Públicos do Rio(!). Frase dita e explicada pelo próprio vilão. Bom, depois dessa, vamos logo admitir: somos um povo sem escrúpulos.

E as cenas, então? De uma decadência total: matar um cara com um espetinho de queijo frito, grampear a cabeça de um indivíduo para fechar um ferimento e mostrar explicitamente os órgãos de uma personagem, é o maior atestado de que não tem COMO levarmos esse filme a sério! Confesso ainda que quando vi uma senhora oferecendo um prato de comida para um dos sobreviventes, em frente ao seu casebre com galinhas e porcos caminhando ao redor, repentinamente, me vi no meio do Camboja... mas não, ali era o Brasil mesmo!



Sem nada a oferecer de bom, assumo em dizer com clareza de que Turistas seja, em toda a História do Cinema, o filme que mais aliena, denigre e contextualiza de forma deprimente e ofensiva, a população inteira de uma Nação. Claro que somos conhecedores de nossas próprias falhas e erros sociais. Sabemos sim, que o Brasil é um país em constante aprendizado e que, se não fosse por um Governo ainda danoso e corruptível que temos, e um Sistema defasado que possuímos com leis atrasadas e inúteis, poderíamos nos igualar a qualquer país dito do Primeiro Mundo. Temos natureza para isso e uma força popular muito forte e abrangente. Mas que, claro, manipulado e iludido pelas Grandes Nações como os próprios Estados Unidos nos faz, somos deparados com nossa realidade defeituosa e negativa que o filme transforma como algo pop e sensacional. Talvez essa transformação sim, seja o erro mais FATAL de Turistas. Afinal, não se faz deboche e piada sobre uma pessoa deficiente... e sim, tentamos ajudá-la. Turistas não só NÃO AJUDA, como MALTRATA.

Intimamente e patrioticamente, o pior filme que já assisti!

* NOTA 0

PS: A mocinha do filme em determinada cena diz que adorou passar 3 meses na Favela da Rocinha. Estou querendo entender até agora, o que ela adorou lá???

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terça-feira, julho 03, 2007

PEQUENA MISS SUNCHINE - Uma pequena Obra Prima


Hoje em dia, o mercado cinematográfico se divide praticamente em duas esferas: (1) das milionárias superproduções que geralmente faturam horrores nas bilheterias e que dão mais ênfase à parte técnica de um filme, e (2) das discretas produções que dão um enfoque maior no roteiro e no desenvolvimento de seus personagens e narrativa... esses últimos, apesar de não se transformarem em arrasa-quarteirões, possuem muito mais chance de serem verdadeiras obras primas. É o caso de Pequena Miss Sunshine!

A história segue o lúdico sonho da graciosa menina Olive (a carismática Abigail Breslin, mostrando que simplicidade pode também ser um grande talento para a interpretação), que pensa em ganhar o concurso da "Pequena Miss Sunshine" disputada entre tantas outras meninas de diversas regiões dos EUA. Talvez, o único e maior problema da doce Olive ganhar esse concurso seja sua própria família, composta por membros parcialmente esquisitos! Sheryl (interpretada pela excepcional Toni Collette, a mãe de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido), é também aqui a mãe da pequena Olive; uma mulher aparentemente equilibrada, mas que é sufocada em muitas vezes por seu casamento, ou melhor, por seu marido Richard e acaba tendo suas crises de histerismo. Greg Kinnear (o bichinha educado que morava ao lado de Jack Nicholson em "Melhor é Impossível") é Richard, um homem metódico e sistemático que vive sob regras e normas da "boa imagem perante a sociedade". É o típico americano que pensa em sucesso, quer viver o sucesso e respirar o sucesso, sendo que ele mesmo é um poço de imperfeições. Seu lema é "No mundo, só existem dois tipos de gente: os vencedores e os perdedores"... creio que Richard esteja na segunda definição e não sabe disso. Dwayne (o novato Paul Dano) é o irmão de Olive, um adolescente rebelde e conturbado que preferiu se isolar de sua própria família não se comunicando durante 9 meses. Quer ser piloto militar e vive uma fase inteiramente revoltada com tudo e todos. O jovenzinho praticamente odeia todas as pessoas... ou pelo menos, diz que odeia. Tio Frank (o ótimo Steve Carell, o famoso "Virgem de 40 Anos") é um homossexual que já tentara suicídio, mas que agora tenta pôr sua vida em ordem após sofrer uma amarga desilusão amorosa. Bondoso e pacífico, ele só quer viver em paz com todo mundo. Chegamos, enfim, no avô doidão da pequena Olive que se tornou um viciado em heroína e um leitor assíduo de revistas pornográficas. O vovô interpretado pelo veterano Alan Arkin (vencedor do óscar de melhor coadjuvante por esse papel), é um homem que tenta aproveitar os exageros da vida já que acha que perdeu muito tempo sendo "careta". Portanto, dentro desse núcleo familiar repleto de personagens problemáticos, a menina Olive seja concretamente a pessoa mais sensata da família. E é aí, que nossa admiração e carinho pela personagem aumenta ainda mais!

O roteiro explora cada personagem com perfeição, dando espaço para todos atuarem de forma plena e convicta de que conseguirá demonstrar as qualidades e os defeitos de suas personalidades. Há diálogos sensacionais que provam o quanto de sutileza e sinceridade há em cada membro dessa louca família. É como se conseguíssemos desmascarar um pouco mais de seus perfis apenas percebendo cada frase e palavra que estão sendo ditas. Lembrando que mesmo enfocando o drama de uma família, o roteiro do filme, acentua muito bem os pontos divertidos e engraçados de cada um deles (a cena da fuga com um corpo pela janela de um Hospital demonstra um trabalho em equipe maravilhoso dentro dessa questão cômica, rs). O filme carrega o toque de humor com sutileza... nada é escancarado pra se gargalhar!

Muito bem dirigido pelo não tão conhecido Jonathan Dayton, "Pequena Miss Sunshine" é um notório exercício onde mostra que um diretor não precisa ser extravagante para transformar o filme em algo mirabolante, pois a mirabolância desse projeto reside justamente na naturalidade com que cada cena e sequência foi feita: as da corridinha pra pegar a Kombi que não pode parar e toda a sequência da dança final, são os brilhantes elementos que comprovam isso!

A história é cativante, o filme é completamente humano e seu elenco (escolhido com perfeição!) faz com que cada um de nós, no fim de tudo, reflita sobre o que a sociedade nos impõe no que diz respeito ao que é certo e ao que é errado. Será mesmo que ser perfeito é perfeito? Ou se identificarmos nossas diferenças e as dos outros e soubermos respeitar e compreender isso, podemos um dia, tornarmos seres humanos melhores? Concordo com o Richard quando diz que na vida, há vencedores e perdedores... mas há aqueles perdedores que talvez nos ensine muito mais do que alguns vencedores.

* NOTA 9

PS: A Kombi da família, é um personagem à parte.

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