segunda-feira, fevereiro 26, 2007

OS INFILTRADOS - O melhor e o mais inusitado filme de 2006

Acabo de assistir à cerimônia de entrega do óscar e, para minha surpresa, a obra cinematográfica eleita como melhor filme de 2006 foi Os Infiltrados, de Martin Scorsese. Digo para minha surpresa não pelo fato do filme não ser bom, mas sim, por ser um tipo de filme que foge completamente às regras dos finais de filmes policiais hollywoodianos.

Baseado no filme chinês Mou Gaan Dou(de 2002), de Wai Keung Lau e Siu Fai Mak, "Os Infiltrados" conta a história de uma trama que se divide entre um policial infiltrado num grupo mafioso (Leonardo DiCaprio) e de um bandido criado pela máfia (Matt Damon) infiltrado na força policial. Essa sinopse à primeira vista - ou à primeira lida! - pode ser considerada até simplória, mas o desenvolvimento da narrativa e o bem elaborado roteiro (também premiado como Melhor Roteiro Adaptado) transforma o filme numa caçada de Gato e Rato muito bem enganchada.


Leonardo DiCaprio e Matt Damon (para alegria das menininhas!) estão juntos disputando forças em lados opostos, e com muito talento. Enquanto vemos DiCaprio compondo um personagem muito mais psicológico e emocional, explodindo algumas vezes em sentimentos e tensão, observamos o seu perfeito contra-ponto que é Damon, fazendo um sujeito muito mais frio, calculista e metódico. E posso afirmar com total segurança de que esse dois "jovens" atores são perfeitos para os papéis. Não precisam nem duelar fisicamente... mas um embate verbal ou apenas uma rápida troca de olhares entre os dois personagens, já demonstra o quanto de vigor e força os dois atores possuem. E falando de vigor e força, Jack Nicholson é o cara que parece ter esses dois elementos em abundância! O velho Jack faz de seu personagem um indivíduo que ao mesmo tempo assusta e provoca risos (a cena onde ele espera dentro do cinema o personagem de Matt Damon aparecer para pregar-lhe um susto, já é antológica!). E também é espantoso perceber que o veterano ator "brinca" como se tivesse recebido um papel fácil. E seu personagem não é nada fácil: líder de uma organização mafiosa e dono de uma extensa rede de influências, seu personagem é o responsável de fazer a "ponte" entre DiCaprio e Damon, além de conseguir ainda oferecer uma atuação que oscila entre a seriedade e o escracho. Mas na interpretação de Jack Nicholson, isso certamente é um elogio!


Os Infiltrados passeia por nossas expectativas. Nos apresenta elementos que nos faz ficar esperançosos e de repente, nos joga pistas que desfaz todos esses nossos anseios. É um filme engenhoso, sem sombra de dúvida! E um filme policial bastante incomum. Mas não espere os velhos clichês policiais. Em "Os Infiltrados", não há nada de tiros gratuitos, explosões pirotécnicas ou outras técnicas manjadas de filmes do gênero. Ele é mais do que isso: é roteiro dos bons! O filme amarra a história de uma forma em que nossa curiosidade para saber quem se dará bem no final, permanece em alta sem precisar apelar para esses recursos que os adolescentes adoram. Afinal, não estamos falando de um filme de ação comandado por McG, e sim, por ninguém menos que Martin Scorsese (premiado também como melhor Diretor por esse filme!). E por falar em Scorsese, o coroa já merecia um óscar desde seu primeiro excepcional trabalho com Robert De Niro que chama-se Touro Indomável. E de lá pra cá, o cineasta ítalo-americano realizou verdadeiras obras-primas como Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, Cassino... entre outros. É lamentável que Scorsese tenha sido ignorado pela Academia todo esse tempo, já que o cara é uma verdadeira aula de cinema! Veja alguns de seus filmes mais marcantes e saberá do que estou falando. E agora parece que, depois de três décadas, os engravatados de Hollywood tiveram algum tipo de mea culpa, ou algum efêmero peso de consciência e premiaram Martin Scorsese como melhor diretor por Os Infiltrados. E realmente, suas técnicas e seu feeling para comandar as câmeras e brincar com a estética, continuam insuperáveis!

Mas o irônico é que, mesmo eu tendo achado o óscar de Scorsese merecido, acredito que "Os Infiltrados" não é na minha opinião, o seu melhor trabalho. Não comparado aos já citados acima! Portanto, não achei que seria ele o melhor filme. Eu gostei sim de Os Infiltrados. O achei bem elaborado, tenso e com magníficas atuações do elenco (com indicação até para o ex-New Kids On The Block Mark Wahlberg como melhor ator coadjuvante!), mas não se trata da parte técnica perfeita do diretor Scorsese que comandou tudo na mais alta qualidade, mas sim do argumento insolúvel e hostil nas conclusões que o filme oferece. Isso não o estraga, mas compromete um tanto a naturalidade que a história poderia ter passado um pouco mais. Acho que em determinados momentos as reviravoltas acontecem de maneira tão avassaladora, que deixa de ser crível para se tornar um tanto exagerado.

Por isso, em minha opinião, acredito que o óscar de melhor filme para Os Infiltrados foi um tanto inusitado. Já que não se trata de um filme completamente original... e sim de um remake! Com algumas alterações, claro, mas ainda um remake! E que, se fosse tão justo assim, a premiação deveria ser dada ao filme chinês original de 2002: esse sim, mais realista e com conclusões mais completas!

* NOTA 7

PS: Um dos personagens tem um fim tão inesperado que eu fiquei por alguns minutos querendo entender o que de fato havia acontecido.

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terça-feira, fevereiro 06, 2007

UMA NOITE NO MUSEU - Descompromissadamente divertido

Ben Stiller ficou marcado ao compor personagens sutilmente frágeis e ligeiramente perdedores - às vezes, idiotas - que sempre demonstram ao decorrer da trama, um bom caratismo e uma peculiar ingenuidade que faz com que torcemos e simpatizemos por ele. Aliás, presumo que a simpatia que extraímos por seus personagens seja algo diretamente ligado ao próprio Ben Stiller; sempre achei que o ator possui mesmo um ar inocente e uma cara piedosa que aliada à seus trejeitos tímidos e desengonçados, desepenham bem a simpatia que ele tanto exerce para o grande público. Gosto dele e realmente o acho carismático!

Mas isso não é tudo para um grande papel cômico. Assim como Robin Willians - ou até mesmo Adam Sandler -, o carisma, a simpatia e o jeito amigo que eles passam, não funciona tanto quando o roteiro não os deixa tão "soltos". Ao contrário de seus tipos anteriores, Stiller está mais reservado nesse novo filme. Eu diria até, contido. Não que isso o torne sem graça, mas certamente, o retira grande parte da força humorística que o comediante possui.


Interpretando um pai de família com problemas no relacionamento e com um filho que ele tenta impressionar, Stiller empresta seu lado mais sentimental e passivo para compor um vigia noturno que ronda um Museu onde, à noite, algo de muito estranho e diferente acontece. Seu personagem mais uma vez, transmite grande simpatia, mas não permite que o ator desempenhe sua performance histriônica. E convenhamos que, mesmo sendo exagerado e caricatural, o humor de Ben Stiller engrena nos mesmos mecanismos que os de Jim Carrey: sendo extravagante! E em "Uma Noite no Museu" não há nenhuma cena onde ele prende o órgão genital no zíper da calça, luta com um cachorrinho raivoso ou esfrega a cara acidentalmente em um peito peludo e suado de algum adversário numa partida de basquetebol. Com exceção da única cena mais escrachada (onde envolve um mico!), Stiller não funciona como ele está acostumado a funcionar, e com um elenco que leva mais outros humoristas de peso como Robin Willians fazendo o Presidente Roosevelt e Owen Wilson (seu parceiro habitual de comédias) fazendo um cowboy neurótico, parece que o ator percebe que o filme é mais do que ele, exigindo-o apenas uma atuação formal e descompromissadamente divertida.

E, certamente, o filme parece ser mais do que Stiller. Com uma premissa bacana (que me lembra momentâneamente "Jumanji", protagonizado por Robin Willians), com efeitos visuais de qualidade e com coadjuvantes interessantes, a gente já de cara percebe que as "estrelas" principais do filme serão realmente as criaturas e os bonecos de cera do Museu. E realmente são! Stiller apenas funciona como um fio condutor que liga esses mesmos personagens à trama simplória do enredo: que envolve a ganância de três vilões cartunescos, uma corrida para conseguir colocar o Museu em ordem antes que o Curador chegue e a conquista do filho, que vê Stiller como um pai ainda imaturo e despreparado.


Bonitinho, com mensagens objetivas e um elenco acima da média, "Uma Noite No Museu" funciona como uma grande e divertida Sessão da Tarde. Não decepciona em nada, mas também não nos acrescenta muita coisa. E o personagem de Stiller, com certeza, poderia ter sido bem mais engraçado!

* NOTA 6,5

PS: Se todos os macaquinhos fossem como os do filme, não haveria dúvidas de que teríamos um extermínio da espécie pelo mundo.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O Post de Estréia do Autor

Acabo de realizar um pequeno sonho: ter um blog de cinema! É, muitos sonham em ganhar na Mega-Sena acumulada, sonham com mansões em lugares paradisíacos, com carros importados, viagens para o exterior, enfim... sonhos materiais que devem encher egos materialistas. Mas posso dizer que sou humilde. Sempre sonhei - ou desejei muito - ter um modesto e eficiente blog de cinema.

Nasci com uma veia cinéfila muito forte. Desde pequeno, acompanhado por minha mãe, ia aos cinemas ver quase todos os filmes dos Trapalhões. Confesso que meu gosto pela Sétima Arte começou com eles! Afinal, na década de 80, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias reinavam em absoluto nas telas tupiniquins para as crianças. A Disney também me ajudou: "A Dama e o Vagabundo", "Alladim", "A Bela e a Fera", "O Rei Leão" me influenciaram bastante. E eu fui me familiarizando cada vez mais com o escurinho do cinema, com o cheiro de pipoca e com aquelas antigas poltronas envernizadas desde os meus 6 anos de idade.

Não demorou muito para que minha mãe começasse a me levar para assistir aos filmes legendados! Aliás, devo dizer que minha mãe foi uma grande incentivadora à minha paixão pelo cinema, por tentar ir comigo sempre nas primeiras sessões de filmes com classificação mais alta, pois a bilheteria não barrava muito a entrada de crianças de 10 a 13 anos (que era o meu caso!) quando iam acompanhados pelos pais. Na verdade, ela diz que fui EU quem insistiu para que ela me levasse em alguma comédia americana COM legendas. Alguns filmes, como ainda eram infantis, vinham dublados, mas admito que nunca fiz cara feia para as legendas. Mesmo não conseguindo ler tão rápido, eu queria assistir aos filmes americanos porquê sabia que era lá que estava centrada a grande variedade do cinema. Ação, Aventura, Terror, Comédia, Suspense, não importava o estilo, eu tinha que começar a ver os filmes americanos!!!

E descobri paixões arrebatadores ainda quando criança: vi "ET - O Extraterrestre" (do Mestre Steven Spielberg) e me emocionei pela primeira vez dentro da sala de projeção. Assisti "Os Goonies" e quis fazer parte do grupo do Mikey e correr com eles de bicicleta embalados pela canção "Goonies 'R' Good Enough" da Cindy Lauper, sem nem mesmo saber quem era ela naquele tempo! Curti demais "Milagre na Rua 34" e quase voltei a acreditar em Papai Noel, vi nascer um dos melhores heróis de aventura que se chama Júnior mas gosta de usar o nome de seu cão, tremi de medo com "A Volta dos Mortos Vivos" saindo de suas tumbas ao som de "Thriller", viajei no tempo com Marty McFly em seu DeLorean e adorei cada perseguição que o velho Arnoldão (ainda não metido com a política) fazia para fugir do perigoso T-1000 em "O Exterminador do Futuro 2".

Enfim, meus amigos, mesmo dando hoje muito valor a filmes vindo de toda parte do mundo (Índia, Espanha, China, Israel, França Alemanha...) e tendo consciência de que qualquer país, inclusive o Brasil, pode fazer filmes de muita qualidade, eu me tornei um cinéfilo por causa de Hollywood. Quando descobri que aquela cidade era mesmo uma "Fábrica de fazer sonhos", eu quis sonhar de verdade... e desde então, nunca mais parei!!!

Cel Cavalcante

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